quinta-feira, novembro 24, 2011

Pauliceia comentada

eis que estou em São Paulo.

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uma cidade que acumula vários maiores da América Latina.

não é meu caso, claro. não sou nem américo-latino direito, quanto mais O maior em qualquer ranking.

parei de crescer com 18 anos. não sou maior nem em relação a mim mesmo.

vivo improvisado, neste momento, na casa de um amigo gentil, enquanto tento desatar os nós káfkos da burocracia imobiliária brasileira.

Ao mesmo tempo, tenho um emprego daqueles que se pensa em estar na infância. mas se chega na idade adulta.

a mesma idade adulta das contas, imobiliárias, cartórios e trens.

(não há crianças nos trens - obviamente, elas estão na escola, mas isso me dá um cheiro de cidade sem crianças -- mesmo eu trabalhando em um 'puxa vida' infantil.)

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a cidade cresce mais que a sua gente, porque as gentes param de esticar, o seu limite biológico?

mas a cidade também tem seu pé métrico. nenhuma cidade vai além de seu mapa. embora cresça constantemente.

o crescimento vai além dos limites - é isso que ele é -- rompedor --, é uma semente implantada num pedaço longe da ciência e perto de mim.

e quando eu cresço, a cidade vai junto.

assim, eu faço de São Paulo um dos maiores devaneios da América Latina.

Phillip Glass - Metamorphosis I by Qld Con-Daniel Sullivan

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sexta-feira, novembro 18, 2011

Impermanecendo

demolition ball

há um conceito muito importante no budismo: a impermanência.

a ideia é de que os seres vivos querem evitar a dor e acham que a melhor forma de fazer isso é estabelecendo-se e criando garantias. e a demolição é que não existem garantias e o mundo não é permanente. nem o mundo, nem nada que o faz ser mundo.

a vida é impermanente. ao tentar fixar-se pra fugir da dor, corremos pros braços dela.

eu que não sou budista, embora tenha meus flertes, associo, de modo muito mais tacanho, permanência à tragédia e impermanência à comédia.

pois dor, tradição, herança e retorno ao mesmo ponto me parecem excessivamente trágicos. e saber que o vento sempre empurra o cisco de volta pro assoalho é cômico.

no meio de uma mudança de vida, de casa, de estado, de prospecções, quero imaginar que aquele que me escreve torça o braço de Melinda e afunde sua cara numa torta de creme.

é o riso contra a seriedade.

voltando aos budsatvas, o mantra é: não se leve tão a sério, é só quadrinhos, é só comida, é só uma opinião diferente, não se leve tão a sério, é só uma cidade, é só umas caixas pra passar fita adesiva, é só uns dias, é só... não se leve tão a sério, não se leve tão a sério, não se leve tão sério.

Sê leve. Apenas.

ou descola um fio invisível.

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