segunda-feira, janeiro 31, 2011

Realidades paralelas

uma coisa que eu gosto são histórias de realidades paralelas. aquelas histórias que respondem o que aconteceria se o Viola tivesse entrada no tempo normal da final contra a Itália, o que aconteceria se o Hitler usasse cavanhaque em vez de bigodinho e se o Curt Kobain tivesse ido estudar no lugar de cheirar cocaína suficiente pra matar um pônei.

esse é um recurso bastante habitual nos quadrinhos americanos. O que aconteceria se o foguete do Superman tivesse caído na URSS? o que aconteceria se Ben Parker não tivesse sido assassinado? e por aí vai...

às vezes eu penso o que teria acontecido se eu tivesse passado no primeiro vestibular e não no segundo. ou se eu não quisesse ver A viagem de Chihiro. ou se, sei lá, não tivesse visto Tarantino na adolescência.

acho que é por isso que eu curto tanto versões de músicas.

é como se em um universo paralelo aquela banda que eu gosto tanto não existisse, mas aquela música precisasse ter mundo. e às vezes, a realidade paralela é um puta escape e um lugar gentil.

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sábado, janeiro 29, 2011

Jornal velho II

procurando uma imagem pra ilustrar a postagem de quinta-feira, encontrei tanta charges brilhantes do Angeli, que elas mereciam uma postagem própria.

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sexta-feira, janeiro 28, 2011

Eu li Como desaparecer completamente

Eu acredito em contexto.

Eu acredito em situação propícia.

E eu acredito em criar clima.

O livro é Como desparecer completamente, nome de música do Radiohead, trilha sonora do seriado Lielson – pra que tudo isso?

Começou com boa vontade o que é bastante propício a ler um livro. Ler o livro em uma viagem a São Paulo e, principalmente, no Terminal rodoviário Tietê é criar o clima adequado.

O escritor André de Leones, autor de Como desaparecer completamente, conseguiu.

(daqui pra frente, é tudo um monte de acho de alguém que se pensa um leitor especialista)

O título é fiel à trama. Diversos personagens, que até nem querem, mas nem se importam tanto assim, estão prestes a desaparecer em São Paulo. Não há aqui enredos mágicos; só pessoas com dificuldades de pessoas.

Relações ásperas e embrutecidas, de personagens que acidentalmente desaparecem num canto (pra, claro, aparecer em outro), mediadas pelo sexo, que iconizam relações mecanizadas e automatizadas, feitas quase por tradição, por que é assim.

Esse contato entre os personagens, que não conseguem se relacionar, desaparecendo dentro deles, e eles dentro da própria cidade, é genial. Nomes de locais de São Paulo e da cidade natal (Silvânia) de De leones surgem na narrativa nomeando personagens, ligando espaço dos corpos, espaço urbano e espaço psicológico.

Já fica claro que eu (ou melhor, De Leones) fala de desfragmentação, de pessoas aos pedaços, de relações quebra-cabeça. E aqui há algo que me satisfaz lendo um livro: a forma e o conteúdo dão um beijo na boca.

Além dos capítulos curtos e rápidos, Como desaparecer completamente usa formas fragmentadas e aos pedaços: e-mail e roteiro de cinema, por exemplo. Excertos que fazem sentido naquele ponto e ajudam a voz narrativa a dizer sobre aqueles personagens. E há muito mais nesse livro de ritmo rápido e fluente, e de impacto forte e duradouro.

e eua li, no Tietê, passando por isso. e depois eu, dentro de um ônibus em Curitiba, fechando a última capa do livro.

As histórias dos personagens se cruzam, mas eles não se encontram. Os personagens desaparecem completa e absolutamente. 

E são encontrados, apenas, na minha lembrança de leitor.

Eis o trailer do livro:

E aqui um programa Entrelinhas com o André:


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quinta-feira, janeiro 27, 2011

Jornal velho

dizem que jornal de ontem já não vale de nada. eu, em protesto, apresento o texto da coluna de Marcelo Coelho para a Ilustrada de ontem.

o tema da ética nacional me interessa particularmente e, embora não pareça pelo início, é disso que o texto trata.

MARCELO COELHO 

Corrompa ou obedeça 


Inspeção veicular, tomadas de três pontas ou nova ortografia: o Estado sempre inventa das suas

VAI TERMINANDO janeiro e, se você for como eu, já está se preocupando com o que deixou de fazer neste ano. Em especial em matéria de burocracia automotiva: IPVA, multas, licenciamentos e revisões. Digo isso porque, até agora, nada fiz no tocante à inspeção veicular do meu velho Astra, já veterano nessa espécie de Enem sobre quatro rodas.
Procurar novamente no mapa o lugar (inexistente, inacessível) onde há "agendamento disponível" para "efetuar" o "controle do meu veículo"? Como assim? Já não fiz isso no ano passado? Ou melhor, não fiz isso há coisa de um ou dois meses, nada mais?
Sim, responde, grave, a voz da consciência. Fizeste a inspeção em dezembro, porque consentiste com meses e meses de atraso descomunal. Viraste o ano, renasce o teu desleixo. Janeiro já faz a conta dos teus pecados.
Eis, entretanto, a boa notícia. Surgem na cidade mecânicas especializadas na inspeção veicular. Ou seja, previnem surpresas desagradáveis na hora da medição das emissões do seu veículo. Fazem mais: agendam a inspeção, levam o carro, devolvem-no perfeito e aprovado.
Não duvido da existência de profissionais honestos nessa nova área de atividade, como os há nas auto-escolas, nos exames psicotécnicos e em coisas do gênero.
Disseram-me, entretanto, que muitas oficinas sabem o truque para passar na inspeção. Desregulam o carro antes de levá-lo aos técnicos da Controlar, que aprovam tudo, e depois o cliente recebe o carro com a desregulagem desfeita, isto é, poluindo tanto quanto devia desde o início.
Muito trabalhoso e inverossímil, penso eu, quando, num bom sistema de agendamento terceirizado, a burla poderá ser feita de comum acordo entre a oficina e algum técnico mais camarada.
Honestas ou não, vejo que pipocam oficinas na própria vizinhança dos estabelecimentos de controle. Vejo também que, com isso, surgem dois tipos de cidadãos.
O primeiro tipo é aquele que entra de cara amarrada na inspeção, pronto a liderar algum movimento contra o sistema. Depois de dez minutos no máximo, recebe o laudo: foi aprovado.
Pude ver, esperando na fila, o sorriso de felicidade desse cidadão; sente-se limpo, cumpriu sua parte, não terá nova chatice antes do ano que vem, seu problema pessoal foi resolvido -e o escândalo, se escândalo havia, já não é mais da sua conta.
O segundo tipo de cidadão é aquele que já recorre direto à oficina especializada e não se incomoda se estiver acontecendo alguma coisa errada por baixo do pano.
Por mais opostos que pareçam, os dois se complementam. Quem paga propina está na verdade se vingando de um Estado que impôs, certamente com fins arrecadatórios, uma fiscalização nova, uma exigência a mais sobre os cidadãos.
Já tentaram tornar obrigatório o estojo de primeiros socorros, como o seguro contra terceiros, a cadeirinha das crianças, e não esqueçamos do próprio pedágio... O cidadão corrompe no varejo em reação ao que vê como corrupção no atacado -as grandes licitações e negociatas para impor legislações desse tipo.
Por sua vez, o sujeito que não paga propina e sai feliz com seu pequeno certificado de plástico padece de mentalidade parecida. Os assuntos públicos não lhe dizem respeito se consegue safar-se deles.
Nos dois casos, o Estado surge como uma entidade alienada, estrangeira, que não está sob nosso controle nem nasceu de nós.
Há outros exemplos disso: a nova tomada de três pontas, que ninguém sabe como foi imposta, e que temos agora de adotar ou de adaptar, para lucro de quem inventou a nova moda. E a nova ortografia, que, uma vez em vigor, todo cidadão de bem se preocupou em obedecer, gastando mais dinheiro e tempo em aprendê-la do que em protestar contra sua criação.
Quase 200 anos depois da Independência, ainda temos do Estado uma visão colonial. Trata-se de uma entidade arrecadatória, nascida de algum reino estrangeiro que inventa novas coisas para nos infernizar e que cumpre enganar do mesmo modo com que nos tapeia.
A corrosão ética da coisa toda nasce, a rigor, da política, e não o contrário: por se tratar de uma cidadania imperfeita, de um autoritarismo latente, de uma democracia sem participação e de um Estado, afinal, sem dono, mas com muitos gerentes e coronéis, é que corromper ou obedecer são as saídas que conhecemos. Não adianta reclamar depois.

coelhofsp@uol.com.br 

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quarta-feira, janeiro 26, 2011

Eu tenho medo...

talvez a Regina mais que eu. mas eu tenho medo.

hoje, o Corinthians faz um vestibular pra saber se tem o nível necessário pra jogar a Libertadores da América (a menina ruiva de todo corinthiano).

serão duas provas: uma de ataque (em casa) e outra de defesa (fora). se não passar nessa hoje, a segunda parte da prova passa a ser de ataque também.

o Corinthians começou a se preparar pra esse teste no ano passado, quando podia ter tido nota suficiente pra entrar direto na escola de grupos - em vez de comer sanduíche de pasta de amendoim, agora tem de se virar.

e a despreparação planejada refletida nos péssimos jogos deste ano, deixa a torcida na expectativa pelo pior. sempre pelo pior.

mas com isso tudo eu sei lidar. o Timão já passou uma fila de 23 anos, foi ganhar um Brasileiro só em 1990 (ah!), já foi pra segundona (vergonha eterna). tô acostumado a torcer além da lógica.

pra que o o time faça o que ainda não fez e nem deu mostras que fará.

E torcer que a RPC não passe campeonato paranaense e me deixe vendo o jogo no Lance a lance da uol.

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segunda-feira, janeiro 24, 2011

Eu vi Scott Pilgrim contra o mundo

e gostei.

já que parece inevitável falar disso, vamos à relação HQ Vs filme. (Scott Pilgrim é originalmente uma HQ)

eu fiz um mestrado defendendo que não importa a fidelidade ao original, mas sim a qualidade da nova obra em seu próprio meio, com relações de "espírito" entre elas.

é bem mais importante ser um bom filme, que o filme muito parecido com o gibi.

e Scott Pilgrim contra o mundo é muito divertido e se sai bem como comédia romântica de aventura, pra a geração que viveu os videogames.

o filme - inacessível ao meu pai - é viver em um videogame e concretizar metáforas: garota do seus sonhos, lutar por essa garota e superar os relacionamentos anteriores.

quando eu comprei a graphic novel, eu pensei: essa história não vai dar certo. a junção de elementos é tão absurda e improvável, e ao mesmo tempo, tão óbvia, que consegue ser muito boa. Comprei também o segundo volume e aguardo pelo terceiro. A versão gringa saiu em seis volumes; por aqui, a Quadrinhos na Cia. os compilou de dois em dois.

(até levei meu gibi pra Londres na metade do ano passado, o autor autografaria o lançamento da sexta e última edição por lá - mas não fui pegar meu rabisco).

metade do ano passado? peraí: se o filme saiu lá fora no segundo semestre de 2010, somando o tempo de produção, quer dizer que o final da HQ só foi feito depois do filme ter começado.

isso aí! e o autor do gibi aproveitou umas ideias do roteiro do filme pra fechar a história. e a relação entre os dois meios é inteligentemente pensada pelo povo da película. por exemplo...

o uso dos ícones é muito importante na HQ. pra manter esse clima, o filme aposta em onomatopeias visuais.

vale gastar um pouco de fósforo nisto, mas ainda não o fiz: o corte a transição de cena do filme (muito rápidas) tem muito a ver com a noção de corte de quadro na HQ.

mas deixando o formal de lado, a Ramona Flowers de Lee O'Malley é, pedantemente falando, uma Helena de Troia moderna e em pixels. representa um objeto de desejo, possível de ser conquistado e que vale uma guerra.

mais sobre a Ramona no blogue do Túlio.e aqui o som da banda do Scott Pilgrim.

eis uma animação pra ser vista antes do filme - mas pode ser agora mesmo:


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sábado, janeiro 22, 2011

Para ler no final de semana

Blogue de tiras francês deveras divertido, sobre Luc Lemploy, do quadrinista François S.

Emploi, se traduzido do francês, é "emprego, trabalho". Com a graça do artigo definido em francês Le se contrair em um singelo L' o nome do personagem evoca também L' employé, ou seja, "o empregado".

E todas as tiras (páginas) são sobre conseguir trabalho, entrevistas de emprego, entregar currículo,etc. E o mais estranho: são ótimas e não se parecem com Dilbert ou The Office!

A única exigência é ler em francês.

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sexta-feira, janeiro 21, 2011

Reflexão pela faca

eu cortei minha mão com faca ontem. até que foi bom.

não sou alinhado a Sacher-Masoch ou genéricos. mas você vai entender.

eu amanheci com muita dor de cabeça.

tanto que pensei num tempo em que essa era minha colheita do dia. a cabeça que doía.

doía tanto que pensei naquela época que a dor de cabeça era um jornal matutino.

 

ela doía tanto, que eu até já considerava essa a vida. ela doía tanto que era assim meu dia.

restou aceitar.

e me adaptei.

pessoas têm filhos, pessoas pescam, pessoas têm dores de cabeça diárias.

sempre nos adaptamos.

vive-se em qualquer parte de globo, supera-se a corrida evolutiva. adapta-se ao ambiente. acostuma-se.

como eu tinha me acostumado com a cabeça em combate contra mim, acostuma-se a sempre pedir a mesma pizza no mesmo lugar, a trepar nos dias certos, a beber pra se acalmar.

como acostuma-se as pessoas a trabalhar sem viver.

como acostuma-se a acordar sem a maravilha da novidade deitada a seu lado.

acostuma-se com cansaço, com desgosto.

acostuma-se. habitua-se. adapta-se.

 

mas minha mão ainda dói e me incomoda.

e isso é bom.

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quinta-feira, janeiro 20, 2011

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Da folha de S. Paulo - O aeroporto tá parecendo rodoviária

Mais uma vez, reproduzo aqui o texto de Antonio Prata para Folha de S. Paulo, publicado no caderno Cotidiano de hoje.

ANTONIO PRATA 

O aeroporto tá parecendo rodoviária


Se o Brasil continuar crescendo e distribuindo renda, quem é que vai empacotar nossas compras? 

O FUNCIONÁRIO do supermercado empacota minhas compras. A freguesa se aproxima com sua cesta e pergunta: "Oi, rapazinho, onde fica a farinha de mandioca?". "Ali, senhora, corredor 3." "Obrigada." "Disponha."

A cena seria trivial, não fosse um pequeno detalhe: o "rapazinho" já passava dos quarenta. Teria a mulher uma particularíssima disfunção neurológica, chamada, digamos etariofasia aguda? Mostra-se a ela uma imagem do Papai Noel e outra do Neymar, pergunta-se: "Quem é o mais velho?", ela hesita, seu indicador vai e vem entre as duas fotos, como um limpador de para-brisa e... Não consegue responder.

Infelizmente, não me parece que a mulher sofresse de uma doença rara. Pelo contrário. A infantilização dos pobres e outros grupos socialmente desvalorizados é recurso antigo, que funciona naturalizando a inferioridade de quem está por baixo e, de quebra, ainda atenua a culpa de quem tá por cima.

Afinal, se fulano é apenas um "rapazinho", faz sentido que ele nos sirva, nos obedeça e, em última instância, submeta-se à tutela de seus senhores, de suas senhoras.

Nos EUA, até a metade do século passado, os brancos chamavam os negros de "boys". Em resposta, surgiu o "man", com o qual os negros passaram a tratar-se uns aos outros, para afirmarem sua integridade.

No Brasil, na segunda década do século XXI, o expediente persiste.

Faz sentido. Em primeiro lugar, porque persiste a desigualdade, mas também porque todo recurso que escamoteie os conflitos encontra por aqui solo fértil; combina com nosso sonso ufanismo: neste país, todo mundo se ama, não?

Pensando nisso, enquanto pagava minhas compras, já começando a ficar com raiva da mulher, imaginei como chamaria o funcionário do supermercado, se estivesse no lugar dela. Então, me vi dizendo: "Ei, "amigo", você sabe onde fica a farinha de mandioca?", e percebi que, pela via oposta, havia caído na mesma arapuca.

Em vez de reafirmar a diferença, reduzindo-o ao status de criança, tentaria anulá-la, promovendo-o ao patamar da amizade. Mas, como nunca havíamos nos visto antes, a máscara cairia, revelando o que eu tentava ocultar: a distância entre quem empurra o carrinho e quem empacota as compras.

"Rapazinho" e "amigo" -ou "chefe", "meu rei", "brother", "queridão"- são dois lados da mesma moeda: a incapacidade de ver, naquele que me serve, um cidadão, um igual.

Não é de se admirar que, nesta sociedade ainda marcada pela mentalidade escravocrata, haja uma onda de preconceito com o alargamento da classe C, que tornou-se explícito nas manifestações de ódio aos nordestinos, via Twitter e Facebook, no fim do ano passado.

Mas o bordão que melhor exemplifica o susto e o desprezo da classe A pelos pobres, ou ex-pobres que agora têm dinheiro para frequentar certos ambientes antes fechados a eles, é: "Credo, esse aeroporto tá parecendo uma rodoviária!". De tão repetido, tem tudo para se tornar o "Você sabe com quem está falando?!" do início do século XXI. Se o Brasil continuar crescendo e distribuindo renda, os rapazinhos, que horror!, ganharão cada vez mais espaço e a coisa só deve piorar. É preocupante. Nesse ritmo, num futuro próximo, quem é que vai empacotar nossas compras? 

antonioprata@uol.com.br

@antonioprata

 

Aqui um vídeo do Marcelo Adnet - que acho que todo mundo já viu - que vai na mesma linha do texto:

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terça-feira, janeiro 18, 2011

Procura-se

Procura-se uma forma de fugir do carnaval brasileiro.

não preciso me alongar falando de quê e porquê odeio o Carnaval. 

é muito mais urgente dar um jeito de fugir.

em poucos meses, o Brasil será atacado por uma legião de desvivos chamado sambistas que atacam em blocos deixando restos de confete e serpentinas e cantadas baratas e lancça-perfume.

essas pessoas andam armadas de termos perigosos, a saber: ginga, malemolência, a alegria e a alegria do brasileiro.

somando a situação de que Rebolation foi a música do Carnaval 2010 e a tendência é piorar sempre, haja Deus nos acuda.

uma opção para interessados em cinema é fazer um curso de roteiro em Cuba. dois problemas, porém:

1) isso deve dificultar uma futura entrada na terra da oportunidade

2) 1300 euros de curso + uns 1300 dólares de passagem de avião

uma excelente opção era Buenos Aires, mas lá o Carnaval virou feriado também e soube que a cidade se comporta mal em feriados.

resta, como alternativa, restar em Curitiba.

mais a frente eu explico como sobreviver à praga carnavalesca na capital social.


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segunda-feira, janeiro 17, 2011

Como era mesmo?

Eu embarquei no ônibus e...

não, não começava assim. Era algo antes. foi quando saí de casa. ou não?

eu estava no meu quarto e ANTES de me levantar, eu sonhei que sonhava.

não, não. essa já foi queimada naquele filme meiaboca.

Eu estava em casa, tenho certeza.

era Curitiba ou Beltrão?

ou era eu mesmo? não sei, mas o que aconteceu comigo era uma volta pra mim mesmo que não consigo explicar...

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sábado, janeiro 15, 2011

Lançamento da Café Espacial 8

nessa edição da Café Espacial tem conto da Van Rodrigues e texto meu sobre  o Godard. e tem mais:

o lugar é aprazível, a companhia agradabilíssima, a música boa. vamos?

 

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sexta-feira, janeiro 14, 2011

Sobre correr

esses dias atrás aí comentei que me preparo "espiritualmente" pra começar a correr (não, ainda não).

não quero dar amplitude dramática e nem gerar expectativas, afinal é só um passo depois do outro. mas correr?

há quem rpecise fugir, chegar ou sair. mas e eu? por quê?

pra que tudo isso, Lielson?

eu lembro: vontade pura e impulsiva de correr.

eu tinha de. corri, quase caindo na calçada de Curitiba (o engenheiro de urbanismo daqui foi um pândego: pedra sabão numa cidade que só chove).

corri por causa de um filme.

<p>Dogville from Luis Rodrigues on Vimeo.</p>

é, eu confesso um certo exagero na reação, se você aceitar uma certa verdade (minha, claro) no que escrevo.

mas eu precisava.

e corri.

não foi porque gostei ou fugi. além disso. porque precisava. (também quis correr no Radiohead, mas faltou espaço e e energia)

agora não preciso. ou eu acho que não. pra quê então?

 

 

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quinta-feira, janeiro 13, 2011

Quarta parte da lista

Vamos lá, mais algumas obras indicadas para quem está interessado em ler quadrinhos, mas não sabe por onde começar. As regras que norteiam a criação dessa lista estão aqui nessa postagem.

Como o título indica, essa já é quarta vez que trato desse tema e só devo parar quando reunir umas 30 obras (ou eu me cansar). Pra ver todas as partes da lista, procure pela sugestiva etiqueta por onde começo? lá embaixo. Ou aqui.

Simbora?

Noturno - Giancarlo Berardi & Ivo Milazzo (Opera Graphica)

Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo formam a dupla de criadores italianos responsáveis pela série de sucesso Ken Parker. A arte de Milazzo é um espetáculo e os roteiros de Berardi são inteligentíssimos. Noturno é um álbum curto, composto por 6 histórias, com alguma metalinguagem, algum grau de "metaHQ" e muita sensibilidade. Fellini não deixou a produção cultural italiana impune.

Indicado com força pra quem: curte quadrinhos italianos; curte histórias bem contadas; curte a arte de Milazzo.


Copacabana - Lobo & Odyr (Desiderata)

A arte suja de Odyr casa perfeitamente com a história de submundos criada por Lobo. Uma das melhores visões do Rio de Janeiro, desencantada, real e agressiva, mas ainda sim, muito bonita. Copacabana é imperdível. Leia a resenha AQUI.

Indicado com força pra quem: curte Nelson Rodrigues; curte histórias cariocas sem o padrão Globo de qualidade; acredita nas boas intenções.

Sábado dos meus amores - Marcello Quintanilha (Conrad)

Poucos sabem trabalhar o momento como faz Quitanilha. Antes ele assinava as HQs como Marcello Gaú. Mudou de nome, mas manteve a linha de trabalho. Um Rio de Janeiro de periferia, coberto por uma dose de lirismo visual em vez de violência, embalada em arte realista. É uma das HQs que mais gosto, pra ser lida aos pouquinhos, deixando que ela mande no tempo que passa ao redor. Além de tudo, é um dos primeiros álbuns nacionais pra Ipad. leia a resenha AQUI.

Indicado com força pra quem: curte lirismo visual; acredita em um Manuel Bandeirismoda vida; curte arte realista.

 

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quarta-feira, janeiro 12, 2011

mutabilitas ueritatem ducet

vamos por a verdade, assim, em latim. pra parecer mais verdade.

A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer. (M. Q.)

ou em citação, ainda que em português, com a autoridade daquele poeta mentido, que tanto não escreveu aquilo que lhe dão.

buscamos uma verdade em nós, ali, em você, em mim, na arte. é insistente a luta pra encontrar esse graal e entorná-lo, e assim, digerir uma verdade. em gole único, pra matar rapidamente qualquer dúvida.

não confunda A verdade com os fatos de tinta desbotada, na banca do meio da quadra. nem aqueles fatos em alta definição de led, na parceria incestuosa da verdade confudida de realidade. e vice-versa.

nem creia que na solução das meias-verdades, que são apenas os fatos proibidos de se mover, a meio caminho de você.

imposição, como a voz na mesa do bar que grita, não, na verdade...

pense pequeninas de pílulas de sinceridade. pratiquemos a verdade por inteiro, ainda que homeopática.

eis uma delas:

encontrei um punhado de músicas que em fez querer ouvir mais e de novo. e de novo o mais. bem vinda aos meus ouvidos, Etta! obrigado por tudo e desculpe qualquer coisa!

clichês são verdades sem ponta, incapazes de atravessar o fato (sorria, estou lhe impondo as minhas verdades).

  
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terça-feira, janeiro 11, 2011

Da folha de S. Paulo - Meias

Brilhante texto de Mario Prata, para caderno Cotidiano da Folha.

Meias 

 


A gente acha que difícil são as grandes decisões. Às vezes, são as pequenas escolhas que dilaceram o coração 


A GENTE SEMPRE acha que a mudança virá de grandes resoluções: parar de fumar, pedir demissão, declarar-se à Regininha do RH. Às vezes, contudo, são as pequenas atitudes que alteram definitivamente a rota de nossas vidas. Nessa segunda-feira, por exemplo, pela primeira vez em 33 anos, saí para comprar meias. Sou um novo homem.
Talvez o leitor ache que estou exagerando. É que não teve o desprazer de conhecer minha gaveta de meias até 48 horas atrás. Mais parecia "saloon" de velho oeste: poucos pares, estropiados, cada um vindo de um canto -tenazes sobreviventes de diferentes etapas da minha vida.
As três brancas, de algodão, haviam sido ganhas na compra de um tênis de corrida, lá por 98. A marca da loja já quase não se lia, escrita no elástico esgarçado. Pior que as brancas estavam as azuis, da Varig, do tempo em que a ponte aérea era feita pelos Electras, e as aeromoças davam brindes, não broncas.
O pé da meia azul não tinha curva no calcanhar nem na canela: assemelhava-se a um coador de café dos Smurfs. Ou dos Na'vi. O elástico era frouxo, mas o laço afetivo não, de modo que as seguia usando, ano após ano, mesmo diante dos encarecidos apelos de minha mulher.
Em bom estado mesmo só as cinza, com losangos, que peguei para completar o valor na troca de uma jaqueta, presente de natal em, sei lá, 2002. Era a minha "meia de sábado", aquela que vestia para jantares, casamentos e entrevistas de emprego. Além dessas, havia mais três ou quatro, que de tão ordinárias nem merecem meu comentário.
Ah, caro leitor, eu era infeliz e não sabia! Uma vida com poucas meias é uma vida de expectativa e ansiedade. Toda manhã aquele suspense ao abrir a gaveta: quais estariam ali, quais andariam na longa peregrinação que passa pelo cesto, pela máquina, pelo varal?
Cheguei ao fundo do poço na sexta, 31, dez da noite. Minha mulher batia na porta do banheiro, apressando-me para a ceia, enquanto eu, sentado no chão de azulejos, encaixava as meias cinza na boca do secador de cabelos. Não queria virar o ano com os pés úmidos nem gostaria que todos me vissem, quando tirasse os sapatos para pular sete ondinhas, com as velhas meias da Varig.
Naquele momento de angústia, por trás do ruído aeronáutico do secador, dos meus gritos e dos gritos de minha mulher, pude ouvir uma voz grave, que vinha de toda parte e de parte alguma: "Antonio: tu és homem feito. Pagas as contas e impostos em dia. És casado, asseado, vacinado: por que vives nesta penúria?"
Se eu soubesse como era fácil, tinha feito antes: nem cem reais, caro leitor, custou minha alforria. Hoje, se quiser, posso ir a três entrevistas de emprego, dois jantares, seis casamentos e jogar futebol, no mesmo dia, sem repetir as meias. Não terei mais que pensar no assunto até 2019, no mínimo.
Quer dizer, mais ou menos: pois enquanto contemplo a gaveta multicolorida -de "saloon" do velho oeste, transformou-se em baile da corte- minha mulher aparece no quarto, segurando as meias da Varig com as pontas dos dedos, como se fossem camisinhas usadas: "Posso jogar no lixo?"
A gente sempre acha que difícil é tomar as grandes decisões: parar de fumar, pedir demissão, declarar-se à Regininha do RH. Às vezes, contudo, são as pequenas escolhas que mais dilaceram o coração.

ANTONIO PRATA 


antonioprata@uol.com.br

@antonioprata

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segunda-feira, janeiro 10, 2011

1, 2, 3, vai!

tenho pensando em começar a correr. não metaforicamente, fisicamente. mas tem a ver.

só dou um tempo antes de começar, pra que não pareça resolução de ano novo, que já vem com etiqueta frustração (variações de Taiwan tem desistência).

comecei a procurar por isso, e descobri um mundo ao redor dos meus pés (o umbigo do falsa humildade?).

os pés não se dividem em direitos e esquerdos, da maneira que os não corredores pensam. existem trocentas classificações e até testes pra você saber qual é o tipo de tênis adequado pra você.

tenho tido dificuldade de encontrar um modelo que decente - todos os tênis de corrida que encontrei são combinações em variadas porcentagens de molonas, gel, cores berrantes e glitter.

quem diga que isso é por causa dos meus 30 anos (quase 31). eu prefiro acreditar que é para evitar um futuro que se agarra ao batente da porta pra sair de casa. mas a verdade, provavelmente, é outra.

tem algo de por as pernas em ação pra ver a vida andar, em vez de correr. eu corro, e você espera um pouco. tem a ver com segurar a corrida do relógio baudelairiano enquanto acelero as canelas. tem a ver com a metáfora. tem a ver com a prática.

 

ah, assim que encontrar um tênis decente, eu aviso.

 

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sexta-feira, janeiro 07, 2011

Regimes

Queria poder pensar em regime e lembrar de dietas. Mas no caso dos regimes totalitários e ditatoriais, a perda de peso é do inimigo do estado.

E o efeito sanfona aparece nas declarações. Caso do General José Elito Siqueira, para quem o regime é algo histórico e que passou.

Não nos envergonhemos das barrigas adquiridas e não nos ocupemos das medidas de pessoas desaparecidas. É o que é. Fala digna de um Alberto Caieiro de estrelas no ombro e quepe na cabeça.

Esse fatalismo sobre os acontecidos é digno de uma tragédia grega. Ao herói, seu destino e paciência. Assistamos. mas no caso dos desaparecidos, não há muito espaço pra catarse.

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quinta-feira, janeiro 06, 2011

Terceira parte da lista

2010 acabou, mas a lista de sugestões de quadrinhos do tio Lielson continua. Aqui está a primeira parte da lista e as regras que norteiam a escolha dos títulos. Sem enrolação vamos lá:

Xampu – Lovely Losers (Devir)

Roger Cruz ainda é mais conhecida pelo seu trabalho pra Marvel nos anos 1990. Ainda que o reconhecimento seja maior, não é dessa época o parâmetro de seu trabalho em Xampu. Nada de super-heróis aqui ou aquele traço que usou na época. É a história de jovens paulistanos nos anos 1980, mas sem os topetinhos ou músicas sintéticas. Os personagens vivem em um ambiente de rock farofa. E a força do álbum surge no encontro gradual das histórias. Sem falar que arte de Cruz está muito bonita e sua narrativa é excelente. Recomendado. Leia a resenha.

Indicado com força pra quem: curte histórias autobiográficas, quem curte os arredores do cenário musical, quem curte os anos 80

 

Jimmy Corrigan – O garoto mais esperto do mundo (Quadrinhos na Cia)

Muita gente diz que esse álbum é o Ulisses (James Joyce) das HQs. Fora o exagero, há alguns motivos. Chris Ware levou a narrativa, composição de página e quadros a um nível poucas vezes experimentado nos quadrinhos. E tudo ao memso tempo! Uma leitura lenta e pesada, com uma história de rasgar os olhos de chorar. O (des)encontro de um filho, Jimmy, com seu pai, que o abandonou. Aí que está a diferença com o romance de Joyce: mesmo com todo o marabalismo verbal, Ulisses é livro com humor e mais leve. Mas vale a leitura. Olha a resenha.

Indicado com força para quem: curte experimentações de linguagem, quem curte histórias de pais e filhos, designers.


Malvados (Desiderata)

André Dahmer tem um trabalho irônico, ácido e mal-humorado. E sensacional. Teve repercussão a partir da internet e hoje é um dos melhores humoristas nacionais. Em vez de me ler, leiam o Dahmer direto na fonte.

Indicado com força pra quem: curte um mal-humor engraçado, tem vergonha do ser humano, curte tiras em quadrinhos.

 


 E a lista continua em outra postagem...

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