segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O gato de Schrödinger pulou no meu colo. ou não.

comecei a ler hoje, no ônibus, o livro do Murakami.

foi paradoxal ler sobre um Havaí sem nuvens e ensolarado enquanto estava no em um ônibus lotado, lutando contra cotovelos e freiadas típicas de transporte de animais de abate.

(seriam os motoristas de ônibus enigmistas que advertem por ações metafóricas?)

em um trânsito congestionado, eu imobilizado pelo acúmulo humano, lendo sobre corrida.

corrida que não pude começar a fazer, por estar correndo demais. e enquanto eu não correr (porque estou corrido) eu posso começar - ou não - a correr todo dia.

tem borda recheada de cheddar nesa pizza (ou não)? até abrir, tem e não tem.

até eu não correr, eu posso e não posso correr. o cansaço até lá, é brinde.

 

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sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Just' cause you feel it doesn't means it's there

A M O R T E C I D O.

era sim que cada um deles se sentia, cada um com sua morfina, cada um em sua implosão, todos igualmente amortecidos. teve quem bufou, teve quem fingiu se empedrar, tem quem se deixasse amortecer de dentro pra fora. mas pelo menos 3 vomitaram o desvigor.

Aparecida, sabendo que se deve tirar o mais - nem o pior, nem o melhor, mas a essência - de cada momento de sua vida, se permitiu amortecer até que seu corpo caiu do sofá, amoleceu no chão, derreteu entre os tacos e se vaporizou no andar de baixo, totalmente entorpecido.

Yashin, decidiu sair de casa, ainda que amortecido. tomou um par - uma branca e uma verde - e nunca mais foi visto.

Liz, meio molenga e sem ritmo, cantarolou sua música favorita. ela precisava sentir alguma coisa. precisava. sentou na frente de seus empoeirados CDs, puxou o disco certo, ligou bem alto e dançou até que os poros de seu braço festejassem o satori engenhado.

tudo continuava igual, mas eles desamortecidos, já nem lembravam de ter sentido algo diferente de seu agora.

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quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Se o cinema é 3D, a existência é 10 D

vi lá no Trabalho Sujo, mas esse é o vídeo com legenda em português torto.

advirto: não me responsabilizo por nós na cabeça.

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terça-feira, fevereiro 22, 2011

Eu vi Cisne negro

faz um tempinho que eu vi o belo filme do Aronofsky.

tinha colocado ele na pauta do blogue, mas deixei quieto porque todo mundo já tinha falado o que precisava ser dito.

pra bem e pra mal.

mas depois dessa assustadaora leitura do João pereira Coutinho, na Folha de S. Paulo de hoje, resolvi defender o filme.

(ou seria defender a mim mesmo, já que concordar com o Coutinho seria discordar de mim?)

ao contrário do que dizem por aí, Cisne negro é, sim, um filme de balé.

a leveza e a graça de uma arte de dança é oposta ao peso e à pressão psicológica vivida pelas bailarinas.

ainda há a pressão da arte de performance. um escritor pode errar, reler, reescrever e o público nunca saberá. diferentemente de uma dançarina que erre a coreografia.

com esse paradoxo de saída, Aronofsky encaixa outro: a disputa dos conceitos apolíneo e dionísíaco sobre Nina, a protagonista.

é um filme de balé que põe seus pés, firme e categoricamente, em uma discussão estética.

(economizo vocês das questões sobre autoimagem, o duplo, identidade fragmentada e o caraio a 4)

a questão não é que Nina precisa perder a virgindade, os pudores e a razão. mas a questão também não é que ela precisa manter o tecnicismo, a busca da perfeição impossível. ela precisa é encontrar o meio termo.

o filme é a busca dos dois conceitos opostos em uma única pessoa.

dionisíaco, claramente, vem de Dionísio (ou Baco), deus grego, entre outras, da arte não figurada e do exagero. seus seguidores esquartejavam animais vivos e comiam o que sobrava, acreditando beber o sangue e comer o corpo do deus (vinho + hóstia católica? oi?). Dionisío representa a força criativa do caos e do desregramento.

apolíneo, é de Apolo. deus das artes figuradas. é de Apolo que vêm a beleza clássica, as formas perfeitas e a sublimação pela experiência estética absoluta. Apolo representa o gênio criativo e a consciência do processo.

Apolo é encantamento e Dionísio é a participação.

(deve existir nomes gregos pra isso, mas não conheço)

Nietzsche tratou o assunto com um tanto mais de qualidade que eu em seu A origem da tragédia. Lá o bigodudo alemão postula que a tragédia grega só é possivel no afluente dos pensamentos apolíneos e dionísiacos.

e isso é Cisne negro. uma discussão estética clássica, repensanda pra nossa sociedade e época, através de uma arte em "quase" desuso.

ah, gostaria de ter revisto Repulsa ao sexo antes de escrever isto, pois a noção de que são filmes relativos ainda não me abandonou.

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Lançamento de Ordinário

Hoje vou conversar com o genial Rafael Sica, na Itiban.

o camarada vai lançar lá seu livro Ordinário.

Conheça o trabalho do Sica, compre o livro na Itiban, veja o bate-papo e autografe.

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segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Em um mundo perfeito...

em um mundo perfeito, existiria o gabinete da silly walk.

e as pessoas passariam mais tempo caminhando divertidamente, largando trânsito, ônibus, aumento de passagem.

já pensou um batedor de carteira Silly-walkado? ou um jogo de futebol inteiro?

realiza a paradinha com Silly walk!

ah, porque eu não posso escrever o roteiro do mundo, meu Deus?

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sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Lançamento de Gefangene na Itiban

é hoje!

vou lá conversar com o Koostela, na Itiban, às 19 agá.

tuíte com #itibansessions pra fazer perguntas e comentários sobre o bate-papo.

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Primeiro orelhada em King of limbs

taí o primeiro clip do disco novo do Radiohead.

se chama Lotus flower.

parece mais "errado" que o Hail to the Thief, mais fácil que o Kid A e menos melodioso que o In Rainbows. e, claro, comparável, mas diferente de todo o resto já feito pela banda.

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quinta-feira, fevereiro 17, 2011

McGuffin

nessa semana de postagens curtas e de radiohead, lembrei que o cluipe de Just, é um belo exemplo McGuffin.

McGuiffin é uma 'pira' que o personagem quer, que tem existência material, mas que nem sempre descobrimos o que é - porque, na verdade, importa o caminho e não a chegada. é um conceito do Alfred Hitchcock.

tipo a maleta do Pulp Fiction.

tá bem melhor explicado aqui e aqui.

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quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Rewind

Já falei antes sobre isso, mas quando algo me epifaniza, eu tenho vontade de correr.

e já corri muito com um velho walkman da Sony nos orelhas.

imaginava se aqueles giros da fita eram mais certeiros que os giros que eu fazia dentro de mim.

voltava as fitas com a caneta pra economizar pilha.

hoje tento voltar a vida com as teclas.

ouvindo a mesma música:

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terça-feira, fevereiro 15, 2011

Nessa semana

só radioheadices

essa é a minha favorita do Amnesiac:

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segunda-feira, fevereiro 14, 2011

King of limbs

em um dia de tensões e obrigações que me fariam ficar louco, ainda estou todo serelepe.

só porque vai ter disco novo do Radiohead.

e os caras me agradecem por ter esperado.

que é isso, rapaziada, fiquei ouvindo todo o resto que você fizeram e eu que agradeço!

passada a putaria minha com a banda (que na verdade, não passou), é de se pensar o que liga na minha cabeça ouvindo esses caras.

a coisa realmente é pantagruélica.

poucos momentos na minha vida causaram tanto furor quanto o show que eu vi em São Paulo.

Por um minutinho, eu me perdi e quando voltei eu tinha engolido aquela maravilha musical ouvidos adentro.

já ouvi mais vezes o Ok Computer do que "você pode refazer isso?"

cada vez que eu ouço talk show host, meu estômago aperta bolhas de plástico lá dentro.

e é só um punhado de acordes de rock - classudos, é bem verdade - enrolados em coisas que fazem o Lielson pirar.

um dia eu descubro, até lá vou ouvindo...

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sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Um minuto

o que você consegue fazer em um minuto?

é, 1 segundo depois do outro, até 60.

Uma boa ideia chega em 1 minuto. e uma ideia ruim chega em 1 minuto.

quantos eu te amo cabem em 1 minuto? quantos clichês cabem? quantas frases do saramago?

um corredor consegue a 4 metros por segundo fazer 240 metros - o que dá umas duas quadras se não precisar esperar pra atravessar a rua.

já pensou esperar sempre, 1 minuto pra atravessar a rua? esperar sempre 1 minuto antes de cada qualquer?

em 1 minuto dá pra fazer qunatas vezes os 140 caracteres do twitter?

em 1 minuto, quanto dá pra sentir do Osman Lins, do Lars Von Trier?

em 1 minuto dá pra resolver foder com tudo, não fazer e por isso, sim, foder com tudo de verdade. será que dá?

em 1 minuto, você lê esta postagem aqui. ou até menos.

tenha 1 minuto de mau-humor.

1 minuto pra se perder entre os pontos de ônibus certo e errado.

tem uma proposta aqui de parar por 2 minutos.

tenta parar metade disso.

se perca por 1 minuto e depois volte e lembre disse por 1 minuto.

1 só.

e chega! vai lá viver 1 minuto depois do outro.

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quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Jornal velho - Marcelo Coelho

Na Ilustrada de ontem, Marcelo Coelho fala sobre sungas e sobre a revolução egípcia.

Concordo com tudo, menos com a parte do mocassim.

MARCELO COELHO 

Sungas, jamais! 


Às favas, portanto, com vossas sungas, cariocas, pernambucanos, paulistas: soy antes argentino

OS BRASILEIROS invadiram Punta del Este neste verão, segundo li na Folha algumas semanas atrás. Um detalhe, entretanto, chama a atenção de uruguaios e argentinos.
Estranha-se muito, naquelas praias do sul, que os brasileiros estejam sempre de sunga. E de correntinha. Por lá, o uso da sunga parece ser restrito apenas aos membros da comunidade gay.
Ao ver alguém de sunga em Punta del Este, portanto, o argentino típico hesita: é gay ou é brasileiro? Ou será as duas coisas?
No que tange à indumentária masculina, tendo a admirar os padrões argentinos. Demorei muito a "assumir", digamos, o uso da sunga e da havaiana em lugares de praia.
Preferi, durante muitos anos, usar a bermuda de algodão e o mocassim. Era menos "popular"; mais "distinto", mais "clássico", mais... argentino.
Tendo aposentado esse modelito aí pela segunda metade do governo Fernando Henrique Cardoso, assinalo que minha antipatia pela sunga não diminuiu com o uso, e possui diversas razões para se manter.
Razões históricas, psicológicas, etimológicas e sociais.
Históricas: minha aversão pela sunga remonta aos anos 80, quando numa operação de marketing político divulgaram fotos do general Figueiredo fazendo exercício. Compenetrado e furioso, o então presidente da República levantava halteres, bufava numa pista de corrida, expelia suor e testosterona pela careca; tudo isso, de sunga e tênis.
Esse tipo de atleta já passado em anos é comum em certos lugares do Rio de Janeiro, como a praia do Flamengo; sem dúvida, um paraíso para militares aposentados. Jogam peteca e fazem cooper; a pele, de tanto tomar sol, já é uma espécie de couro, de casco, de couraça cangaceira; a energia desses sexagenários, voltada para o frescobol ou o vôlei de praia, ganha aspectos de inconfundível revanchismo.
Por cima, a sunga. Tudo, menos usar uma coisa dessas! Verdade que minha repugnância escondia outros complexos, outros traumas. Nunca me orgulhei do meu próprio físico. O uso da sunga -pura e simples, sem camisa- inspira-me um nada falso movimento de modéstia. Às favas, portanto, com vossas sungas, cariocas, pernambucanos, paulistas: soy antes argentino. Quizás uruguayo.
A palavra, em si, já me desagrada, com seu "g" pendurado depois da cava do "u" e do "n" invertido na frente.
Passemos à correntinha. Provavelmente aquelas antigas, de Nossa Senhora Aparecida, não se usam mais; o que causa estranheza em Punta del Este deve ser mais aqueles correntões de ouro, tipo bicheiro e traficante, outra herança dos anos Figueiredo.
Mas que seja: correntinhas; beijá-las antes de entrar na água. Fazer o sinal da cruz na hora de cobrar um pênalti. Um argentino não sei, mas um americano poderia talvez pensar, a cada gesto desse tipo, que o povo brasileiro é composto de religiosos, e mesmo de fanáticos.
Cada vez que vejo muçulmanos inclinados para Meca, naquelas fotos que os mostram em multidão, a ideia do "fanatismo" se acende em mim do mesmo jeito. Como saber? Talvez uma reza seja apenas uma mistura de reverência e hábito, de respeito e medo, como o ato de quem se persigna ao entrar no mar.
E aquelas mulheres de véu na cabeça, participando das manifestações no Egito, usam o véu por razões "religiosas", é certo. Mas quem sabe se não tão religiosas assim.
Evitar o uso de sunga e preferir a bermuda não é religião, mas quase -envolve pudores, convicções, tabus, hábitos, preconceitos, crenças, sei lá o que mais.
Escrevo isso enquanto leio artigos dizendo o que os egípcios querem ou deixam de querer em seus movimentos de protesto. Não são religiosos. Querem liberdade. Não querem liberdade. Querem emprego. Não querem emprego. Querem...
Com que autoridade se multiplicam essas interpretações! É como se alguém dissesse, durante as Diretas Já, que os brasileiros não querem democracia, mas sim uma moeda estável... Ou se, em 1979, alguém dissesse que os iranianos queriam democracia, e nunca iriam aceitar um regime fundamentalista xiita.
Não me arrisco a interpretar os egípcios, portanto. Aquela situação pode evoluir em muitas direções. Só para quem acredita em Alá, de resto, tudo já está escrito. Eu, por exemplo, nunca quis usar sunga. Acabei usando -sabe-se lá onde isso vai parar. 
coelhofsp@uol.com.br

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quarta-feira, fevereiro 09, 2011

É hoje

Viu a parte do cartaz que diz bate-papo? então, eu que vou mediar.

a Gazeta deu a nota ontem.

(lá fica claro que sou um leitor capaz de dar conta de uma obra inacessível, densa e elaborada - :>p)

apareçaaaaam!

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terça-feira, fevereiro 08, 2011

Primeiro passo

às vezes, me estranho. nada daquilo de olhar no espelho e perceber que está velho e se estranhar.

não.

faço coisas que acho estranhas.

que não são assim ESTRANHAS, mas incomuns. trilha das obssesões.

sou um conjunto que recebe obsessões e reflete teimosia, embora eu preferia emoldurar em interesse e persistência.

meu mais recente interesse é começar a correr.

e minha persistência é tal que ontem fui a medicina esportiva antes de botar o pé na estrada em alta velocidade.

sério, eu me estranho disso. a medicina aposta em uma frieza e desumanização que me aborrece.

muito.

a diferença entre mim e o estoscópio é quem vai pra orelha e quem vai pro bolso. eu, me fui pra esteira.

a experiência de hamster devia ser partilhada por todos - principalmente pela enfermeira que depila seu peito e pelo médico que nem te olha na cara.

fios saem de pinos colados com fita adesiva no meu torso e o ar entra por uma máscara desconfortável de borracha mezzo fedorenta.

não fale, o doutor pede enquanto vê o iPhone, isso altera a medição da respiração.

ah, então é pra respirar? foto não rola, chefe?

a vida de hamster, realmente, é uma bela merda. além de acharem que você é um rato tucanado, a tal da esteira exige um equílibrio próprio e desconfortável. "você acha que sabe andar e correr? experimente agora, camarada."

mas, persistentemente, corri até doer minha lateral, ergui a mão e o médico parou de olhar os desenhos que meu coração fazia na tela e desligou a roda da vida.

(pelo que vi ontem, a arte não deve vir do coração não. total falta de criatividade do músculo ensanguentado.)

duas vezes por semana e, por que não, um dia do final de semana. essa é constatação depois de muita ciência médica.

nenhuma insuficiência cardio-respiratória, problemas de joelho ou tornozelo ou indisposição psicossomática. É isso: após meia década de baixa atividade física ainda estou dentro do normal. em um momento vate, me imaginei no pan-americano se tivesse treinado e me dedicado. agradeci aos céus e à terra nunca ter feito isso.

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segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Eu vi Biutiful (edição com extras)

eu não tenho como desconectar Alejandro González Iñárritu de Guillermo Arriaga. foi com eles juntos que conheci o seu cinema.

depois de um leve declive em seus filmes - do brilhante Amores perros ao bom Babel - os dois ficaram loucões e quebraram o pau.

fim da parceria.

Arriaga fez um filme que não vi e Iñárritu fez Biutiful.

na sinopse da programação de cinema a gente já vê que Iñárritu quer deixar Arriaga de lado: não são tramas convergentes, mas a trajetória de UM personagem principal em conflito.

esse conflito tem várias faces, mas é, basicamente, o mesmo com qualquer cara: o desmanche do mundo de um homem, encarnado por Javier Bardem, que atua, até onde entendo disso, soberbamente e é o ponto alto do filme.

o mundo mostrado por Iñárritu continua decadente, meio torto e hiperrealista.a diferença vai pra a estrutura da história.

eu vejo que há dois filmes pelo preço de um: um homem (Uxbal) com um mundo desabando, que precisa cuidar de sua família -  composta por duas crianças e uma ex-esposa tomada -; e um homem com seu mundo desabando que transita pela Barcelona dos imigrantes - africanos vendendo na rua material falsificado feito por orientais.

ah, soma-se a isso uma paranormalidade:Uxbal é capaz de ver e falar com mortos.

Iñárritu tenta dar uma dimensão menos heróica a Uxbal (afinal, explora imigrantes e pessoas que perderam parentes), mas ele é tão empenhado em fazer as coisas certas que não há como não sentir pena dele.

em nenhum momento suas falhas são tão destacadas quanto suas qualidades, dificultando uma postura mais esférica do personagem. é uma ética meio "ele é canalha, mas coitado, no lugar dele o que você faria?"

o conflito dele é tentar remontar um mundo que inevitavelmente vai continuar a ruir.

a falha se deve à falta de tesoura. muitas cenas podiam ser descartadas.

mais: acredito que Iñárritu deveria ter escolhido qual história daquelas duas quer contar. as duas somadas mataram a estrutura dramática de seu filme, que não deixa o espectador guardar o lenço.

é tanta cena emocional, que elas acabam se banalizando.

claro, o diretor é de primeiro time e há sim, várias passagens belíssimas. mas é pouco pra tanto filme.

assim como Uxbal, Iñárritu tenta e tenta de novo fazer o certo. mas no final, entre poucos acertos sobra pouco. parece que Arriaga fez falta.

pra outra opinião, leia o Escorel.

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EXTRAS


assisti sábado O diário de Anne Frank (versão de 1980). filme batido, de forte apelo emocional e massacradamente passado pelas escolas de Ensino Fundamental. No final, uma ceninha simplória, que é uma lição de cinema. atuação competente e elipse (veja ali em cima a partir duns 2:45, melomenos).

claro dava pra evitar a musiquinha jacu.

você não precisa ver os nazistas socando a bota nos judeus. basta o pavor das famílias e os olhos resignados de "acabou-se" enquanto ouvem gritos em alemão e marcha militar pra lá de uma porta (por enquanto) fechada.

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domingo, fevereiro 06, 2011

Esquisitos aleatórios

um belo curta, feito com pouca grana, muita sensibilidade e inteligência.

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sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Passei o dia todo

passei o dia todo acertando os detalhes da aula de amanhã.

(sim, amanhã me visto de professor e vou falar 8 horas sobre roteiro em uma pós-graduação de HQ).

por conta disso, a única coisa que está na minha cabeça é roteiro de HQ.

assim, vai um Alan Moore falando sobre seu trabalho:

<p>The Mindscape of Alan Moore - Parte 01 from Magister Templi on Vimeo.</p>

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quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Jornal velho - Antonio Prata

Sou fã desse cara!

Saiu na Ilustrada de ontem:

ANTONIO PRATA

Cê tem aí uma faquinha?


Adiaremos sempre o "tá resolvido!", repetindo em seu lugar o angustiante "até aqui, tudo bem"

"DEEM-ME UMA ALAVANCA e tirarei a Terra de seu eixo", disse o grego Arquimedes, no século 3 a.C. "Deem-me uma faquinha e um pedaço de fita isolante que eu a coloco de volta", diria um brasileiro, em qualquer época.


Não há desafio neste mundo -de trocar a fiação do prédio a consertar um carro usando peças do motor da geladeira- que o patrício não se ache capaz de enfrentar, munido destes dois multifuncionais objetos: faca & fita.


A faca, entre nós, é chave de fenda e Philips, alavanca, plaina, martelinho, espátula, pincel, régua, alicate, pá; até como antena de rádio já vi usarem-na, presa ao aparelho por -claro!- um pedaço de fita isolante, sua fiel companheira. Se a faca, clara e brilhante, corta, penetra, separa, desbrava, qual bandeirante varonil, a fita, negra e opaca, une, remenda, conserta, protege, mãe gentil. Eis a dupla perfeita, nosso Yin Yang made in Brasil.


Dia desses, eu estava no banho e senti um cheiro de queimado. Chamei um eletricista. Ele constatou que o fio que ia da caixa de luz ao chuveiro era mais fino do que o recomendado pelo fabricante. "Precisa trocar a fiação, seu Antonio". Fiquei olhando-o com aquela cara suplicante que todo brasileiro faz diante de um problema, esperando por uma solução mágica. Ela veio: "Se bem que, no caso, se eu desencapar aqui na ponta e refizer a ligação, enrolando bastante fita isolante, segura mais uns dois, três meses.


Quer?". "Quero!". "Beleza. Cê tem aí uma faquinha?". Já faz uns quatro meses e, até aqui, tudo bem.


Claro que nem toda faquinha é concreta, nem toda fita é tangível.


Quantos presidentes da República não se elegem prometendo reforma política e tributária mas, chegando lá, dizem que, "se bem, no caso, se desencapar aqui, cortar dali, enrolar acolá, pronto!" O próximo proprietário que troque a fiação - e arque com o custo.

Que não se anime demais o leitor liberal, desses que pensam que os males do país são todos frutos da governança pública e de uns seres maléficos chamados políticos, tão diferentes de nosotros. O que são esses terceiros andares ilegais nas casas de São Sebastião, que o Cotidiano tem revelado? No projeto aparecem como mezaninos; na paisagem, lá estão: um andarzão a mais, a contrariar as leis de ocupação. E as danceterias com alvará de restaurante? E as máfias das autoescolas, que agem junto ao Detran, para "liberar" e "agilizar" a documentação do pessoal? Tudo puxadinho, construído na base da faca e da fita isolante, a criar cômodos e incômodos sobre e sob as lajes da lei.


"Ah!" - diz o brasileiro, em sua defesa - "é que com as leis absurdas" "com os fiscais corruptos", "com o Congresso que a gente tem", "com as lombadas eletrônicas", "com o preço da reforma" -esse fui eu - "não dá pra fazer a coisa correta. Esse país só funciona com gambiarra!"


Então tá. Adiaremos sempre o "tá resolvido!", repetindo em seu lugar o angustiante "até aqui, tudo bem".
Até a hora de o chuveiro pegar fogo, o morro deslizar, o prédio despencar, a luz do país inteiro apagar. Já imaginou que horror, se acontecesse alguma coisa dessas? Deus me livre! -digo eu, e dou três batidas no cabo -de madeira- da minha faquinha.

antonioprata.folha@uol.com.br

@antonioprata

Blog "Crônica e Outras Milongas" 
antonioprata.folha.blog.uol.com.br

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quarta-feira, fevereiro 02, 2011

É só futebol

olho pra essa foto aí de cima e penso (ainda mais depois de todas as ideias dela sobre foto):

será que esses austeros senhores de alvinegro passaram pelo que passamos nós? será que eles sabiam que era só futebol?

que diferença um mundo globalizado e a internet faz prum cara moendo os dedos contra a lógica?

nenhuma. porém, a tecnologia me conecta bucaneiro pra ver o jogo, já que as TVs não permitem.

(e será que elas não permitem a favor da saúde desses milhões de brasileiros?)

será que os austeros acima sabiam o que causariam enquanto chutavam uma bola pra lá e pra cá?

sabiam qual seria od esdobramento lógicod e seus pontapés?

lógica e futebol são amigos mal-humorados que conversam pouco. e nessa descomunicação começou o tropeço; e que essa descomunicação ofereça o plano pra nos mantermos em pé.

quanto drama, Lielson! Pra que tudo isso?

não é só futebol? pra que sofrer? é só Futebol (repita). é Corinthians (insista):

e não foi sempre assim? (aceite)

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terça-feira, fevereiro 01, 2011

Epistaxe

achei uma palavra no dicionário que eu precisava mostrar.

não sabia de que modo poderia falar dela e resolvi botar ela lé em cima, em destaque, como título e que vai virar o linque da postagem.

pensei em usar de título e me deixar levar pelo que tipo de texto poderia surgir dali.

pensei em simplesmente postar como entrada de dicionário mesmo, com uma imagem batuta, mas me pareceu meio sem graça.

comecei e apaguei um texto em que falava que gostei de epistaxe (lê-se "epistáquesse") porque essa simples palavra no meio de uma listagem tinha me mandando na carroceria da memória lá pra Francisco Beltrão, pra ver a mim mesmo, ossudo e apavorado.

pensei que eu ia acabar fazendo paralelos com Proust e Eisner e ai ser clichê. sem falar de que acabaria me acoitadando.

resolvi que não faria nada disso, mas que faria qualquer outra coisa (até mesmo contra os planos abandonados de escrita), só pra usar epistaxe pelo menos três vezes no texto.

só porque me lembrou de mim. e me lembrou dele:

e dele

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