sexta-feira, junho 25, 2004

Me dá um minutinho?
Texto já publicado no extinto Circulo

"I'm late
I'm late
For a very important date!
No time to say "Hello!"
Goodbye!
I'm late, I'm late, I'm late!"

O Coelho Branco, em Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol



Peraí, deixa eu pensar um pouquinho...

Prometo que só vou escrever algumas linhas. Tira um tempo pra essa leitura. Sei que você tem pressa.

Tudo tem pressa. Os computadores falam em freqüências de gigahertz, a internet em milhares de qualquer coisa por segundo. Desde que seja em um segundo. Não pode passar disso.

Os textos de informação na rede devem ser os mais curtos e condensados possíveis. Você tem pressa ao ler esse texto. Pula linhas, completa frases por sintaxe e memória e segue em frente.

E você deve entender do que falo.

Os videoclips trazem cortes rápidos e pequenas sequências. As músicas que os embalam não podem se estender além dos longos 3 minutos.

Dalton Trevisan, contista curitibano, passou a produzir em uma forma denominada de mini-história ou mini-conto. Um gênero tão conciso que cada texto não ultrapassa um parágrafo ou um diálogo.

São tantas as informações que passamos a receber de 50 anos para cá que já estamos desgastados. Então tudo deve ser rápido, curto e referencial.

Referencial?

Para agilizar a compreensão. Fala-se de algo já estabelecido, que já exista, que possa ser lembrada por um citação ou um detalhe.

Isso é na verdade um problema, pois pode acabar nos reduzindo ao mínimo cada vez mais (ou menos) até sobrar um círculo de cópias. Uma oroborus da informação.

Essa avalanche de informações que dá respaldo ao império da imagem. Uma imagem é absorvida velozmente pelo olhar. Um texto envolve um grau de codificação maior que uma imagem.

Claro que existem as imagens que criptografam outros sentidos além daqueles explicitamente demarcados, mas em termos gerais uma imagem diz muitas palavras.

Mas já são tantas as imagens que nelas nos afogamos. Ignacio Ramonet, em a Tirania da Comunicação, propõe que se oculta informação pela grande quantidade delas.

McLuhan fala que cada nova inovação tecnológica se torna uma extensão do homem. Temos tantas extensões, tantos olhos, que não temos mais como dedicar muito tempo a uma única expressão.

Ouvimos música, lemos e-mail e falamos ao telefone enquanto esperamos o telejornal começar.

Fazemos mais coisas. Mas de forma menos dedicada.

Lemos livros menores.

Vemos filmes mais curtos.

Não temos mais paciência (sensibilidade?) para músicas clássicas e eruditas com duração de mais de meia hora.

E também escrevemos textos menores. Ninguém tem muito tempo para despender com isso.

Afinal, temos que perder tempo com outras coisas também.

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