quinta-feira, dezembro 15, 2011

O espaço do lado avesso com etiqueta aparecendo

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funciona assim:

imagina que aí dentro é um espaço. aos poucos, isso vai sendo ocupado, algumas vezes preenchido, outras expandido.

tem um mini-você jogando lá pra dentro ideias, cores, referências, expectativas e tinta acrilíca. e você, quase sabe sempre, o que o miúdo-você faz, se é afeito à estantes, se bebe chá inglês, se gosta de fanta uva, Beatles Versus Stones, coisa e tal.

ele e você (tem diferença?) podem não falar sobre isso, recalcar, dobrar e esconder dentro do sapato, mas sabe que tá lá. ou aí.

peraí, esquece você e sua maquete.

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se apega nessa massa. às vezes uma ética cai dentro de um balde e vira e um belo bolo de sinapses. 

mas

(agora falo de mim, entre se quiser sentar no teto)

tem um espaço-entre dentro desse espaço aqui.

de um lado e de outro, ambos acontecimentos beijam o vazio na tentativa desesperada de se tocarem. pois se houver contato, haverá a chance, haverá a música, haverá o ponto e vírgula, haverá enfim a satisfação.

hoje, eu - de braços abertos - sou a distância que há entre o quase e o talvez aqui dentro.

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sexta-feira, dezembro 02, 2011

Instrumentos de dispersão

se me lembro bem, esquecer é parte fundamental.

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não dá pensar que vai morrer enquanto você come bolacha com chá morno, é preciso esquecer a doença de sua mãe enquanto brinca no YouTube.

Espanamos o que se-foi do presente. mas logo a frente, o mesmo pó continua ali, a recobrir sua bolsa, seus livros e as beiradas das portas que deixa de abrir em seu apartamento.

o meu fugir de mim é pré-instalado de nascença.

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não, acho que o dispersar do urgente que é.

mas gosto de encher a mão com os grãos do importante.

(tem uma diferença Gonçalo-tavaresiana entre urgente e importante).

ou talvez só esteja tentando esquecer algo que deveria lembrar. ou isso é um apartamento fragmentado se reconciliando.

mas me lembrei de gostar disto:

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quinta-feira, novembro 24, 2011

Pauliceia comentada

eis que estou em São Paulo.

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uma cidade que acumula vários maiores da América Latina.

não é meu caso, claro. não sou nem américo-latino direito, quanto mais O maior em qualquer ranking.

parei de crescer com 18 anos. não sou maior nem em relação a mim mesmo.

vivo improvisado, neste momento, na casa de um amigo gentil, enquanto tento desatar os nós káfkos da burocracia imobiliária brasileira.

Ao mesmo tempo, tenho um emprego daqueles que se pensa em estar na infância. mas se chega na idade adulta.

a mesma idade adulta das contas, imobiliárias, cartórios e trens.

(não há crianças nos trens - obviamente, elas estão na escola, mas isso me dá um cheiro de cidade sem crianças -- mesmo eu trabalhando em um 'puxa vida' infantil.)

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a cidade cresce mais que a sua gente, porque as gentes param de esticar, o seu limite biológico?

mas a cidade também tem seu pé métrico. nenhuma cidade vai além de seu mapa. embora cresça constantemente.

o crescimento vai além dos limites - é isso que ele é -- rompedor --, é uma semente implantada num pedaço longe da ciência e perto de mim.

e quando eu cresço, a cidade vai junto.

assim, eu faço de São Paulo um dos maiores devaneios da América Latina.

Phillip Glass - Metamorphosis I by Qld Con-Daniel Sullivan

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sexta-feira, novembro 18, 2011

Impermanecendo

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há um conceito muito importante no budismo: a impermanência.

a ideia é de que os seres vivos querem evitar a dor e acham que a melhor forma de fazer isso é estabelecendo-se e criando garantias. e a demolição é que não existem garantias e o mundo não é permanente. nem o mundo, nem nada que o faz ser mundo.

a vida é impermanente. ao tentar fixar-se pra fugir da dor, corremos pros braços dela.

eu que não sou budista, embora tenha meus flertes, associo, de modo muito mais tacanho, permanência à tragédia e impermanência à comédia.

pois dor, tradição, herança e retorno ao mesmo ponto me parecem excessivamente trágicos. e saber que o vento sempre empurra o cisco de volta pro assoalho é cômico.

no meio de uma mudança de vida, de casa, de estado, de prospecções, quero imaginar que aquele que me escreve torça o braço de Melinda e afunde sua cara numa torta de creme.

é o riso contra a seriedade.

voltando aos budsatvas, o mantra é: não se leve tão a sério, é só quadrinhos, é só comida, é só uma opinião diferente, não se leve tão a sério, é só uma cidade, é só umas caixas pra passar fita adesiva, é só uns dias, é só... não se leve tão a sério, não se leve tão a sério, não se leve tão sério.

Sê leve. Apenas.

ou descola um fio invisível.

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terça-feira, setembro 20, 2011

do que eu digo quando eu falo...

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sabe, eu acho que ele sempre esteve ali sentado. não, é claro que ele não passou a vida toda ali, é que me lembro do velho, de chapéu, sentado naquele banco, sempre do mesmo jeito. com chuva, sem chuva, tanto faz. sempre ali, naquele banco que já deve ter sido o centro da praça.

hoje, HOJE, é a primeira vez que o velho não tá ali...

é, sim, acho que ele pode ter morrido sim...

não, é bem tristeza, é mais uma coceira no meio da cabeça, como se algo não tivesse certo...

não, não é o velho ter sumido e eu não ver o cara li. não. é mais como se tivessem me feito de metáfora e eu não conseguisse entender.

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quinta-feira, agosto 11, 2011

Menos

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a foto é da livraria Ghignone, de Curitiba. ela está aqui pela cidade desde 1921. mas vai fechar.

amanhã, sábado e acabou.

enquanto isso, o mundo não "mind the gap" em Londres, e apesar de todos os saques, as livrarias foram poupadas das chamas da anarquia.

ou parece que é isso.

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aqui, a Ghignone faz queima de estoque e eu cumpro meu ritual de despedida comprando um par de livros.

um comércio fechar é motivo pra reclamação, pra tristeza, pra blogagem?

se não é, não sei como pode se chamar isto aqui e este por trás das teclas.

é só uma loja, mas fechou umas portas aqui também.

deixa, deve ser só eu começando a fechar minha Curitiba pra abrir casa nova.

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quinta-feira, julho 14, 2011

Gibicon

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as coisas na vida são bem... bem... do jeito que são.

eu sempre usei o Universo HQ como referência pra escolher os quadrinhos a comprar.

ainda faço isso, mas hoje eu também sugiro leituras pra outras pessoas nas 200 resenhas (malomenos) que já fiz.

mas aí é outra história.

amanhã começa a Gibicon, um evento de quadrinhos aqui em Curitiba. coisa que um eu de 11 anos atrás teria adorado participar.

e hoje eu adoro poder ajudar isso a acontecer.

não quero engolir nenhum mérito pelo evento - eu apenas escrevi parte dos textos do site.

José Aguiar, Fabrizio, Fernanda e muitos outros merecem isso, mas não é sobre isso.

é sobre que amanhã começa o lance.

se estiver em Curitiba, apareça no Paço da Liberdade, no Solar do Barão, no Memorial...

meu eu de hoje vai levar todos os meus eus lá.

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sexta-feira, junho 10, 2011

lançamento dos Cadernos Listrados

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amanhã, na Itiban, mediarei o bate-papo entre Rafel Sica, Fábio Lyra, Daniel Barbosa e Samuel Casal.

cada um deles fez uma arte pruma coleção de cadernos e o Daniel encadernou tudo.

vamo lá?

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quarta-feira, junho 01, 2011

Oficina de contos

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participei da oficina de contos do Miguel Sanches Neto, aqui em Curitiba.

o exercício fazer um texto sobre trânsito, com base em alguma vivência pessoal.

cometi isto (abaixo dele, os bondosos comentários que recebi do Miguel):

ENGARRAFAMENTO

Tudo parado.

Daqui até onde dá horizonte, mais paradão que pôr do Sol do outdoor.

E eu parado junto.

Alguns outros também olham pra frente, pro relógio, pra frente, pro celular, pra frente, pra além. Vemos todos o mesmo horizonte e, parados, vemos cada um um atraso diferente.

Ainda não estou atrasado, mas chego lá se não chegar.

O horário vai pelo corredor em entrega expressa, vai por baixo do asfalto, vapor de tempo virando fumaça.

Tudo poluído com atraso.

Entro em 15. Deveria. Tem uma tolerância de 5 minutos.

Tolerância?

Tudo parado e eu tenho de tolerar isso tenho de tolerar acordar frio se agarrar em ônibus tratado como boi de abate pelo motorista NÃO pelo chefe e você chega na hora e não tem ‘parabéns’ bônus bolo chega cedo mijada e não pode bater o ponto eu bateria no ponto CHEGA hoje mesmo eu penso peço as contas tô lá mais de 5 anos fazendo tudo direitinho nem atestado pego vou trabalhar doente bato o ponto e fico lá até acabar ontem fui pra casa às 22 agá tô cansado arrumo outra coisa sou novo sei fazer monte de coisa NÃO SOU UMA MÁQUINA sem engrenagens óleo parafuso hehehehe mudo tudo num segundo transformo um instante eu tô atrasado.

Tudo parado.

No horizonte: carros, ônibus, motos, parados.

No horizonte: atraso, desconto, mesma coisa todo dia e a vida indo embora.

Tudo parado.

*********

"Oi, Lielson

Gostei de seu conto. Você pegou pela linguagem a idéia do engarrafamento, que não é apenas de carros, mas das idéias do narrador, num fluxo de consciência que desobedece as normas de pontuação.
O jogo dos parágrafos curtos e o longo, central, faze a mudança do ambiente externo para o interno. Neste, o personagem está a mil.
Belo jogo.
parabéns.
abraço
msn"

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sexta-feira, maio 27, 2011

Lançamento da Café Espacial 9

é amanhã, sábado!

tem coisa minha, coisa da Van e coisa do Liber na revista

só chegar no aprazível Brooklyn Café, tomar o melhor macchiato da cidade e comprar a sua revista!

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quinta-feira, maio 26, 2011

Outra lista (mas ainda de Beatles)

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nessa semana de empolgação com os bizorros de Liverpool, vamos com covers tão bons quanto os originais - ou até melhores mesmo, mas fala baixo.

uma óbvia

uma obrigatória

uma do I am Sam

uma porque a Van sugeriu

uma porque é suja e agressiva

 

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quarta-feira, maio 25, 2011

Uma lista (quanto tempo)

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aproveitando a empolgação com o show do Paul, vai aí um top 5 Beatles, válido por 2011 (ordem variável):

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terça-feira, maio 24, 2011

Something in the way

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fui no show do Macca no domingo.

tenho tanto pra falar sobre o show, que não consigo.

topicalizo:

- foi demais

- tocou 2 do meu top 5 Beatles.

- foi foda

- as músicas mais batidas, são as mais fodas ao vivo.

- ouvir o cara falando "usei esta guitarra pra compor Paperback writer. vou tocá-la pra vocês" doi foda demais.

- foi tudo certo.

- 24 horas de ônibus valeram a pena.

- aquilo ali foi lindo:

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quinta-feira, maio 19, 2011

2 X

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entre idas e vindas da corrida de rua regular, hoje tive minha primeira evolução marcante: fiz todo o meu percurso só correndo e ainda tinha energia pra mais.

pela primeira vez desde que comecei a correr não tive que respirar como um búfalo espirrando.

e o ar de Curitiba tá frio de Pinguim pedir pra ir dentro da geladeira.

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milagre? segunda mutação? o contato com o rato me deu novas habilidades?

nope.

aprendi o ritmo de corrida.

o meu ritmo.

levei alguns meses pra encontrar o disgramado, mas agora somos amigos e corremos juntos.

é uma bobagem, coisa pouca, mas depois de ganhar as contas e ter que linchar outro mamímefero, encontrar o ritmo parece o começo da harmonia.

sempre com alguma distorção, pra ter graça.

 

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quarta-feira, maio 18, 2011

O rato está morto

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não teve jeito.

o veneno que joguei, o Senhor Rato estocava prum futuro suicídio.

a ratoeira, o mercado não tinha.

a única pessoa da casa que não treme à menção da palavra ratazana sou eu.

meus princípios éticos foram pelo ralo que o Senhor Rato usou pra chegar à minha casa.

encarei o animal frente a frente.

um duelo entre mamíferos.

não se fala mais em inteligência e artimanhas, apenas em velocidade, agilidade e força.

matei o Senhor Rato a pauladas.

foi triste.

principalmente pra ele.

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terça-feira, maio 17, 2011

Hoje não

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tinha uma brincadeira uma tortura consentida entre os piás de Francisco Beltrão que se chamava "tratar verdura".

(nunca descriptografei essa)

a regra era mais clara que o Arnaldo: ao ver a outra parte tratada, você deveria dizer 'hoje não'. aquele que não disse 'hoje não', tomaria murros e pontapés até que dissesse a frase código.

por que as crtianças, todas do sexo masculino, participavam dessa ludicidade espartana?

não sei, nunca entendi também.

nem quando tinha idade pra 'tratar verdura'.

mas me deu uma vontade de dizer "hoje não" bem na cara do marasmo e metre-lhe um socão no braço!

https://lh4.googleusercontent.com/-W4NV4Rqo75Q/TWlBihY4qoI/AAAAAAAAAm8/jpWtCLL6T34/s1600/Batman+versus+Guy.jpg

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segunda-feira, maio 16, 2011

Ratiando

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eu entrei na cozinha e o rato também. ele tava ali, focinhando vida e eu parado, ainda meio paralizado.

é a primeira vez que eu duelava com um bicho desses.

(por ser pequeno, ele ganha bônus de armadura contra mim).

o rato optou por uma fuga veloz e rasteira para os quartos dos fundos da casa, que ocorreu entre "é, gosto do livro do Dyonélio" e "o Mickey é imensamente mais simpático".

cerquei o perímetro e sei em qual área está. resta agora pôr o rato pra roer grama pela raiz.

mas cada vez que planejo o assassinato do Senhor Rato, ouço o barulho de ossos pipocando.

às vezes, um gemido de vida em fio acompanha.

ele sangra, sabe?

somos ambos mamíferos, temos pelos.

temos ossos que estalam.

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optei por uma saída mais shakesperiana: o veneno.

me sinto mal por induzir o Senhor Rato a, em desespero famélico, comer a desvida.

mas é ele ou eu.

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que vença o primata.

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quinta-feira, maio 12, 2011

Eu fui demitido

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eu fui demitido.

ontem.

perdi o emprego. estou na rua da amargura. fui chutado. dispensado.

ou como se diz hoje no mundo RHquico: desligado da empresa.

me chamaram com mais 4 colegas pruma sala, engataram o papinho temos uma notícia triste pra vocês, vocês estão sendo desligados.

entregaram um papelzinho carente de assinatura em que, resumidamente, a empresa dizia que me dispensava e que tinha um motivo de enorme alegria em ter trabalhado comigo.

se a alegria fosse tão grande, me manteriam na firma só pelo ambiente feliz que proporciono com minha jovialidade. afinal, funcionários felizes são mais produtivos, até o Toyota sabe disso.

eu não me engano: bom, não foi. ser demitido é uma bosta. mas não é o fim do mundo também.

fim do mundo é te mandarem embora, e pedirem pra você responder um questionário demissional que começa com: "Qual a razão da sua demissão?"

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quarta-feira, maio 11, 2011

Como foi o lançamento de La naturalesa

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veja abaixo o meu bate-papo com o DW, na sacra estrutura da Itiban, durante o lançamento de La naturalesa.

para ver o resto, vai lá no blog do DW.

impressionante meu movimento facial enquanto falo.

e claro, as malditas mãos que bailam loucamente pelo ar.

patético.

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terça-feira, maio 10, 2011

Aspas pra Ernesto Sabato

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uma passagem - dentre diversas - muito bonita de Sabato, na tradução de Janer Cristaldo:

"Mas nesse momento, naquele caloroso dia de verão, naquele úmido e pesado entardecer, com a transparente bruma de Buenos Aires velando a silhueta dos arranha-céus contra as grandes nuvens tormentosas do oeste, apenas eriçado por uma brisa distraída, sua pele se estremecia apenas como pela lembrança apagada de suas grandes tempestades; essas grandes tempestades que certamente sonham os mares quando dormitam, tempestades apenas fantasmagóricas e incorpóreas, sonhos de tempestades, que só conseguem estremecer a superfície de suas águas como estremecem e grunhem quase imperceptivelmente os grandes mastins adormecidos que sonham com caçadas ou combates." (SABATO, Ernesto. Sobre heróis e tumbas. Abril: 1986, pp. 142 e 143)

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segunda-feira, maio 09, 2011

Passadinho...

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"Recorda: O Tempo é sempre um jogador atento

Que ganha, sem furtar, cada jogada! Ë a lei.

O dia vai, a noite vem; recordar-te-ei!

Esgota-se a clepsidra; o abismo está sedento."

BAUDELAIRE, Charles - O relógio in Flores do Mal (trad. Ivan Junqueira)

tenho tentado.

acho que não o suficiente, mas tenho.

me livrei de jogos do Facebook, reduzi meu período no Twitter e no e-mail, mas o efeito ainda não veio.

a pilha de livros só aumenta (talvez, se eu parar de comprar e emprestar da Biblioteca), os filmes a ver já ocupam muitos GBytes, as correções da pós-graduação em HQ vão se escoando, digo sim a frilas, digo sim a congressos e não começo - simplesmente não começo - a escrever.

a covardia de falhar se banha na arrogância de que posso fazer a qualquer momento.

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em Beltrão, minha mãe disse, meio que por brincadeira:

"se eu tivesse mais um filho, obrigava a ser médico e ganhar dinehiro. de sonhador, já basta um."

como diz Saint Bachelard, o sonho é importante e sem ele não há mundo desperto.

mas a matéria antiplatônica tem de ser erigida e não basta apenas o prático e onírico.

é preciso a consciência do desperdício.

do dia comido pelo próprio dia, oroboro cósmica do puta que te pariu!

que ninguém me fale em passatempo, eu quero um paratempo!

eu quero um fluitempo, eu quero um melevajuntotempo.

nem que seja só por um instante.

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sexta-feira, maio 06, 2011

Fechando a semana

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vou-me a Francisco Beltrão.

meus pais e minha infância empacotada em memória cercadas por parênteses de 8 horas sobre rodas.

arrumando malas, trabalhando, escolhendo os livros a empilhar e afins, sobra pouco pro Lugar certo.

(e não seria essa a maldita síntese da minha vida? depositar o tempo no lugar errado mais vezes - tempo? - que eu gostaria?

nos vemos lemos segunda-feira.

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quinta-feira, maio 05, 2011

As incríveis aventuras das conversas entre pai & filho

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mais uma da etiqueta inexistente Oficina do nelson de Oliveira. essa era sobre uma relação entre pai e filho.

olha aí:

Acho que foi o pai quem sugeriu o topo do prédio para “conversar”. O filho já sabia o peso da cena: papo de pai pra filho.

clichê.

Subiram as escadas e chutaram poeira em silêncio pelo terraço. O pai foi até a mureta que separava teto e chão, colocou o pé e apoiou os braços na perna; gostou do calor no rosto e do som do vento. O filho, cumprindo bem seu papel, parecia brutalmente desinteressado.

O pai o chamou com um gesto silencioso, porém gentil. Que mais poderia fazer o filho, se não ir? O pai pesou a mão no ombro do rapaz, que manteve as suas nos bolsos da calça.

O pai tirou sua mão do ombro do filho e sem olhar pra ele, falou: “Filho, a vida é uma coisa louca. Hoje estamos vivos, amanhã não estamos mais.” O filho não pode deixar de pensar – nem tentou deixar, na verdade - como o discurso parecia batido.

“Por isso quero que tenha cuidado ao andar por aí, não se exponha, guarde suas coisas pra si.”

O filho olhou para o pai. Achou que ele merecia, ao menos uma casca de atenção. “Nem sempre quem a gente ajudar, vai entender ou dizer um ‘muito obrigado’. Mas faz parte da... coisa toda.”

“É claro que a herança será sua, e você vai ter que continuar o meu trabalho."

O pai olhou para o filho, que dessa vez ignorou a situação copiada de tantos filmes.

"Você quer isso, filho?”

“Pai, eu até quero... Mas eu preciso MESMO usar uma capa?”

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quarta-feira, maio 04, 2011

Procrastinação

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este texto foi feito pra uma oficina de criação literária, ministrada pelo Nelson de Oliveira em Curitiba no final do ano passado.

o objetivo era fazer um texto com repetição, com uns trejeitos de música minimalista.

segundo a bondade do próprio Nelson, esse texto é irretocável pra proposta apresentada.

(momento de autovanglória)

percebeu que ele disse IRRETOCÁVEL?

saiu isto aqui:

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PROCRASTINAÇÃO

Alberto termina o almoço e olha pra folha em branco na pilha de papel. Sabe que precisa escrever para o 1º concurso beltronense de romances. Mas não à mão, assim não conseguirá acabar. Precisa de uma máquina de escrever. Fica pro próximo ano.

Alberto termina o almoço e olha pra folha em branco na máquina de escrever. Sabe que precisa escrever para o 2º concurso beltronense de romances. Mas não à máquina, assim não conseguirá acabar. Precisa de um computador. Fica pro próximo.

Alberto termina o almoço e olha pra folha em branco na impressora. Sabe que precisa escrever para o 5º concurso beltronense de romances. Mas não nesse computador barulhento, assim não conseguirá acabar. Precisa de um notebook. Fica pro próximo.

Alberto termina o almoço e olha pra folha em branco na tela. Sabe que precisa escrever para o 10º concurso beltronense de romances. Mas seu peito dói e cai sobre a folha branca.

 

 

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terça-feira, maio 03, 2011

Luto para um amigo

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cercado pelo casamento real de um lado e pela morte (insira sua dúvida conspiratória favorita sobre isso aqui) de Osama Bin Laden, se centra o mais importante - na verdade, pior - acontecimento do final de semana: a morte do escritor e pintor argentino Ernesto Sábato.

não precisa se sentir estúpido ou, pior, fingir que conhece o mestre gringo. pouco falado no Brasil e obscurecido pelos magistrais Cortázar, Bioy Casares e Borges, Sábato chama pouca atenção no meio literário daqui.

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mas essa injusta atenção pequena, é em nada desprezível. a Compania das Letras tem tudo (ou quase) do hombre em sua linha editorial.

o sempre foda Zé Castello escreveu sobre ele. leia.

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eu fui amigo de Sábato.

não, nunca o encontrei, nunca apertei sua mão e passei pelos segundos sem saber o que falar pra um ser humanao que (a mim) é (ainda É) tão admirável. nunca escrevi cartas pra ele ou e-mails (que eu duvido que ele tivesse). mas ele me conhecia muito bem. e eu a ele.

fomos amigos, e nossas conversas, urdidas pelo Túnel, Sobre heróis e tumbas, Homens e engrenagens e tantas outras palabras, apesar de iguais, cometem novidade. sempre.

ele me falava sobre o cientificismo e do racionalismo dogmático, que segundo ele, são a pinoia desse pampa desumanizador.

quando o conheci, em meio de um capítulo de Homens e engrenagens, no primeiro ano de faculdade, eu entendi alguma coisa. até hoje, não estou bem certo o quê, mas entendi. nessa época, Sábato já tinha abandonado a ficção e praticamente parado de escrever. apenas pintava, em sua casa em um lugar chamado Santos Lugares.

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pintava, até que esses olhos, perenes apontadores pro mundo, cansaram. e, nas armadilhas do idioma, no sábado passado, Ernesto Sábato morreu.

eu já tinha sentido que perdia um tio distante quando José Saramago morreu (não se fica impune a ler tanto o escrito de alguém), mas com o Sábato quem se vai é um tio querido, que nunca vi e nem verei, mas que encontrei mais vezes do que a mim mesmo.

como ele mesmo me disse, quando explicava porque a humanidade não se arrebata por uma onda suicida quando compreende sua mortalidade e vacuidade do viver:

"Que valor existiria se trabalhássemos e vivêssemos entusiasmados se soubéssemos que nos espera a eternidade? O maravilhoso é que o façamos apesar de nossa razão nos desiludir permanentemente. Como é digno de maravilhamento que as sinfonias, os quadros, as teorias, não sejam feitos por homens perfeitos, mas por pobres de seres de carne e osso." (Homens e engrenagens, p. 129, Papirus, 1993)

vou continuar a conversar com Sábato. eu me vou um dia, e ele vai continuar a ser ouvido. quem sabe eu mesmo continue a ouvir...

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segunda-feira, maio 02, 2011

Luto e minha voz

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toda a equipe do Lugar Certo (que sou eu) está em luto pesado pelo passamento de Ernesto Sábato. mas falaremos (eu e mais quem?) disso amanhã.

hoje, ouçam meus palpites sobre a carreira de Frank Miller no Anticast Design, com o Liber PazRogerio Coelho, Ivan (dono do podcast) e Reberson.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIAMaeR3JvrNTo6qy-aH41Jguh4uF-CRjWCJGJqYKzSMZqwurTpC6VnHW-WnxjKOsFWwBnWnsKN87M140L6cA-srZNcrGSKIXOsbwENb9-uG8j0aDriyRYECzlIsQ86sqAu2yMMg/

aqui, quando tudo foi bem pro Miller e aqui quando depreciamos o trabalho do cara, tirando o sono dele e sua razão de viver.

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sexta-feira, abril 29, 2011

Lançamento de La naturalesa

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amanhã eu converso com o DW na Itiban, pro lançamento do novo trabalho do cara, La Naturalesa.

a revista é o segundo número da MIL, que é uma proposta da Barba Negra e do selo Cachalote, de fazer tiragens de 100 edições a 10 pilas cada, gerando renda de mil reaus, tudo pro autor da revista.

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então, amanhã, na Itiban, às 16 horas. vamos? dá uma olhada na prévia do trampo do DW aqui:

 

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quinta-feira, abril 28, 2011

Eu entrevistei Luiz Ruffato

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ARISTEU: Lielson, tava pensando em fazer uma daquelas entrevistas pro Moviola. teria como você me ajudar?

LIELSON: claro, cabra. do que tu precisa?

ARISTEU: então, precisava de um aporte de alguém da literatura pra entrevistar o Luiz Ruffato...

LIELSON:  o Ruffato? do Eles eram muitos cavalos?

ARISTEU: isso!

LIELSON: O Ruffato? claro, claro, no que eu puder ajudar.

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assim - ou quase assim - entrei nessa de entrevistar o Luiz Ruffato com o Aristeu pro site Moviola. e foi demais. é uma pena que ali embaixo só tem 20 minutos da fala do cara.

foi quase 2 horas de conversa, ou melhor, de lições e criação de vontades literárias.

vou tentar convencer o Ari a me passar o material "recusado".

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quarta-feira, abril 27, 2011

Em Buenos Aires - historietas

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aproveitei minha páscoa em Buenos Aires e entupi a mala de quadrinhos portenhos. ou melhor de historietas.

(para informações mais organizadas, consulte o ótimo livro de Paulo Ramos, Bienvenido, lançado pela Zarabatana, e o blogue do homem)

pensando em evitar que vocês passem pelo mesmo surto que eu na Fnac de Paris, vou tentar orientar algum interessado.

(parece frescura 'surto' e 'Paris' na mesma sentença, mas qualquer apaixonado por HQ que visse um andar gigantesto dedicado a centenas de títulos de autores que você desconhece por completo, não entenderia coisa alguma na hora e agora saberia porque consegui comprar apenas 2 álbuns)

certo, vou facilitar a vida de vocês.

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você já tem boa chance de conhecer o Quino (Mafalda) e o Liniers (Macanudo); alguma chance de conhecer Nik (Gaturro), Kioskermann (Eden), Salvador Sanz (Noturno) e uma minúscula chance de conhecer Hector Oesterheld, Alberto Breccia e Carlos Trillo.

esse povo todo aí tem alguma coisa publicada no Brasil já. digite os nomes em sua loja virtual favorita e veja o que aparece, dê uma olhada e caso simpatize com algo, COMPRE a versão nacional. se gostar, já tem um norte do que comprar em Buenos Aires, se não gostar, já tem algo a evitar.

existe uma obra clássica argentina chamada El eternauta que a Martins Fontes prometeu publicar aqui este ano. quando sair, não pense, discuta ou feche a mão, simplesmente compre.

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mas minha sugestão é que você anote estes três nomes: Hector Oesterheld, Alberto Breccia e Carlos Trillo.

pronto, compre alguma coisa de cada um deles. se quiser ir mais a fundo, compre álbuns dos artistas que trabalharam com eles.

explico: Oesterheld escreveu El eternauta e um monte de historietas boas e é referência obrigatória; Carlos Trillo é um dos roteiristas mais produtivos do mundo, há muito material bom dele; e Alberto Breccia desenha obcenamente demais. veja aí uma anima sobre a arte do mestre:

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recomendo, particularmente o cruzamento entre Breccia e Oesterheld e os materias escritos pelo Oesterheld e desenhados por Hugo Pratt; procure também por HQs da dupla Carlos Trillo e Eduardo Risso.

vá às livrarias e às comiquerias - no livro do Paulo há os endereços.

as três principais comiquerias ficam próximas umas das outras e se seu foco for comprar quadrinhos, sugiro que se hospede no Atlas Tower Hotel, muy próximo delas, de vários sebos e livrarias.

além disso, pegue o ônibus 37 em direção a Plaza Itália, desça na própria Plaza Itália e passeie pela feira permanente de livros usados.

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terça-feira, abril 26, 2011

Em Buenos Aires – de cima

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entre milhas acumuladas e horários de feriado, nos obrigamos a comprar passagens da Pluna, do Uruguai. o trajeto é Curitiba – Montevidéu – Buenos Aires.

a Pluna não paga lanche pra ninguém e cobra (bem) por ele e, fechando o momento Classe Média Sofre, ainda cobra 30 doletas por mala que você trouxer de volta da Argentina – sim, só na volta, depois de você gastar todo seus pesos em alfajores, doce de leite e artigos de couro.

quando voei pela primeira vez (de verdade, nunca sonhei que voava) foi pra Buenos Aires, fugíamos de um carnaval.

o avião chegou à noite, e pela janela eu vi um Mondrian que se mexia.

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é bobo, eu sei.

sou bobo, sei.

mas e daí?

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gosto de olhar pro Mondrian e sentir que estou voando.

mas é só tinta e linhas coloridas.

não, não é.

é Buenos Aires vista da janela do avião.

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