sexta-feira, março 31, 2006

Lielson

Escreveu tantas histórias de si, que não pode achar graça em nenhuma. Todas as histórias foram "de si".

Só pode, ao final de tudo, escrever:

Desculpem, nada pude escrever. Essas histórias encharcadas ainda estão por nascer. Espero...



Catching the butterfly - The Verve

quinta-feira, março 30, 2006

Nelson

Nelson não tem dúvidas que o jogo será difícil. A final do torneio da cabeceira do rio Concórdia. O Esporte Clube Piratini está em campo aquecendo.

Nelson, impaciente.

"Melhor esperar meia hora, do que chegar dois minutos atrasados, mas não pro nascimento de um filho!" Mediante sua ansiedade, revia seus conceitos. Lourdes entrara em trabalho de parto pouco antes do almoço.

Nelson, ansioso.

Começa a chover antes do apito inicial. Norberto, chega para seus dois irmãos mais novos e diz:
- Nelson! Anildo! Dio madonna! calma! vocês são bons e fizeram um campeonataço até aqui. o que pode dar errado?

Nelson não sabe. Mas não gostava quando chovia.

Ele sempre ficava nervoso quando chovia. Como naquele jogo do torneio do rio Chapecó. Ou era do rio Concórdia? "Um filho! O que isso mudará na nossa vida? Uma vida de dois extendida a três."

Dio cramento!

1 X 0, pra eles. Quase final do primeiro tempo. Nelson, trajando a jaqueta de número 8, recebe a pelota, gira e escapa do desarme, prepara e lança pra Anildo (11), pela direita. Anildo recebe, domina no peito, ajeita com a coxa e arremata certeiro no canto esquerdo baixo do porta-metas adversário. 1 X 1!

Nelson, feliz.

16h. O médico já avisara Nelson que tudo agora seria questão de poucos momentos. "Acho que essa chuva é, no fim das contas, alguma coisa boa." Ao olhar pras gotas conhecendo o chão, Nelson não sabia, mas experimentava uma epifania.

A ansiedade prossegue.

Já é segundo tempo. Nelson não gosta de chuva. Campo liso é mais difícil. O pior é aquele bigodudo que não cala a boca:
- manda embora esse 8. é um pereba! um perna-de-pau!

Nelson, nervoso.

"Vêm filho, vêm. Não demora tanto. Promete que não vai chegar aprontando. Teu pai só quer te conhecer. Vêm."

"O Bigodão não cala a boca. Parece não saber falar outra coisa. Opa. Vou mostrar pra ele. Um veio, sai. Cadê o Anildo pra eu tocar. Sai daqui, limpei esse. Cadê alguém pra receber? Têm dois na frente e outro vindo por trás. Pelo meio. Cadê alguém? Vou chutar. O goleiro saiu."

Nelson, em dúvida.

"Será que tá tudo bem? Que demora, meu Deus. Será que deu algo errado com a criança? Com a Lourdes? Por Deus, não, Deus não permita que..."
- senhor Nelson? Nelson se virou tão rápido quanto pode.

Tira o goleiro do lance e chuta forte. GOL! Nelson corre pela chuva e com a testa franzida, chega até o Bigode, e põe o indicador em riste sobre os lábios, até ser submerso pelos companheiros do Piratini. Aquele era o maior golaço que Nelson já havia feito ou faria. Driblou 5 jogadores e virou o jogo. Motivado pela raiva.

Nelson, sorridente.

Seu filho nascera 16h30, de cesariana, porém sem complicações para mãe, criança ou pai. Era a maior conquista da sua vida. Sua melhor jogada. Não só sua, também de Lourdes. Motivados pelo amor de um pelo outro.

Satisfeito, Nelson se deixa chover.


O vencedor - Los Hermanos

quarta-feira, março 29, 2006

Tranquilo

Tranquilo estava apaixonado. Era capaz de apostar cada um do seus tostões duramente economizados que Catarina correspondia a seus desejos, olhares e esperanças.

Pensando bem, não apostaria não. Tinha a mais absoluta certeza, mas pra quê arriscar perder o pouco que se tem?

Ai! A miséria, ai a carestia! Tranquilo queria presentear Catarina com algum mimo, para que as evidências transparecessem como os fatos irremediáveis que eram. Mas tudo tão caro!

Flores? Muito caras e convencionais. Doces? Também caros. Roupas? Essas sim, custam os olhos da cara!

As necessidades econômicas de Tranquilo, mal sabia ele, já eram adaptadas à época da distribuição gratuita de música e programas. O que fazer pra suprir as necessidades e não ir à falência?

Tranquilo sabia. Na tarde de domingo, foi até a casa de Catarina, logo pela manhã.

O orvalho ainda deslizava pelas folhas e as poças d'água de dias anteriores de chuva não haviam se retirado, enquanto Tranquilo sentia seus pés umedecerem. Sua testa e torso, começavam a pingar.

Ao longe fez sinal para que Catarina, que estava no seu quarto, fosse até ele. Entre ansiosa e assustada, a bela jovem saiu pela porta e aproximou-se.

Tranquilo entregou-lhe uma caixa verde. Sorrindo, ela a abriu: nada.

Olhou para Tranquilo, que sorria, senentendida.

- Aí dentro está meu amor, minha admiração por você e a vontade de fazê-la minha esposa.
- Mas não tem nada aqui!
- É, não tem. Não coube, nem há caixa no mundo em que caiba!

Exatos vinte anos depois, o pequeno Nelson, recebe pelo correio uma caixa verde e leve, remetida por Tranquilo. Entrega-a para Catarina.

- Mãe, foi o pai que mandou! Mas não tem nada aí dentro...

Sorriso e lágrimas, Catarina ensina a Nelson:
- É que não coube aqui dentro, filho.



After all - Cat Power

terça-feira, março 28, 2006

Massimiano e Giovanni

Massimiano e Giovanni competiam entre si. Não havia, por parte deles, atitudes isentas da disputa.

Massimiano vencia no futebol, quatrilho e com a horta. Giovanni, na corrida, bocha e no galinheiro.

Massimiano roubava as botas de Giovanni. Giovanni, escondia espinhos na almofada da cadeira de Massimiano. Este devolvia atirando tomates no peito daquele; o troco vinha em forma de baldes d'água em cima das portas.

A competição só se igualava no rio: ambos pescavam exatamente a mesma quantidade de peixes, nadavam com a mesma velocidade, prendiam a respiração durante o mesmo tempo e faziam uma pedra dar 13 pulos n'água.

Casaram e tiveram famílias igualmente numerosas, pouco dinheiro e bastante satisfação. Dizia-se que não morreriam jamais, em disputa para saber quem viveria mais tempo.

Um dia, Giovanni e Massimiano foram nadar e voltaram machucados, assustados e quietos. Suas esposas estranharam e se preocuparam. Depois desse dia não houve mais disputas entre eles. O marco da aliança foi batizar o filho de Giovanni de Tranquilo.

Giovanni e Massimiano, competiam para saber quem seria o primeiro a quebrar o pacto e entrar em disputa com o outro.



L'excessive - Carla Bruni

segunda-feira, março 27, 2006

Domenico

Sentado no porto sobre um rolo de corda, Domenico vigia seus filhos dormirem.

Pouco se passou desde o desastre de ontem. Os dois, já adultos, lembram crianças dormindo juntas no mesmo quarto.

5 dias. O que separa Domenico de Margherita são 5 dias para um lado e a eternidade para o outro.

As águas que o emergiram à família, agora lhe afogam Margherita. Dizem que deu sorte: está vivo.

Domenico não vê muita sorte. Só muito trabalho e dor. Para ele e para i ragazzi.

Os rapazes terão que ajudar: a achar o seu lote, a plantar, a aprender questo maledeto portuguese, a semear.

Semear faz nascer. A força que está na vida. Mas hoje, 5 dias só, Domenico está fraco.

Chora.

Giovanni e Massimiano, acordam. Choram abraçados, os três. As lágrimas são as primeiras sementes que deitam à terra.



Llam cuando quieras - Rubin

sexta-feira, março 24, 2006

Pra começo de história...

Um cesto igualzinho àquele trazia um bebê também homem. As águas que não eram egípcias e sim, italianas.

Nada de profetas, líderes libertadores ou escritores da Bíblia. Uma singela criança arriva na margem, quase aos pés do casal.

Atravessar as montanhas fora realmente uma idéia de Deus. A prova era a recompensa que tinham aos seus pés.

Uma gritante e frágil criatura, desamparada e necessitando de cuidados. Qual deveria ser seu nome?

Talvez uma homenagem ao tio-avô pintor, também um agraciado pelas mãos do Senhor.

Retirado do cesto sobre a plano existir das águas, o pequeno ser que era pó e um dia retornaria ao pó, foi parcialmente imerso e recebeu um punhado dessa água, levemente aplicado, sobre a testa.

O pequeno Domenico entrava para a existência do mundo.



Great jones street - Luna

quinta-feira, março 23, 2006

Sabe, tem coisa que a gente não cansa de fazer

Nunca fiquei cansado de me divertir, por exemplo.

Ou de ouvir Radiohead. Ou de descobrir coisas sobre literatura. Ou de sair com a Van.

E, é claro, comentar sobre a ABL. Enquanto o Jerôoooooni-mo Teixeira (óbvio, da veja) tenta reclamar/ difamar e descreditar a nova geração de escritores, eu prefiro atacar os velhinhos (sim, minha maldade é ilimitada e gratuita).

Quem nunca sonhou em tomar um chá imortal de morangos eternos com o imortal Marco Maciel? É claro, jamais esqueçamos as bolachinhas (nhã - nham).

Pois hoje a tarde votar-se-á a bunda de número 28.

O imortal que morreu e liberou espaço foi um jurista com inúmeros livros legais chatíssimos publicados.

As bundas...bundos...bundões...caras? que disputam a dança da cadeira imortal são:
  1. Célio Borja: Advogado publicou livros de direito a torto e. O resultado por livros seus no site da Livraria cultura deu em 0, assim como na Submarino;
  2. Domício Proença Filho: esse cara é mais quente: crítico literário e romancista, é possível encontrar coisas dele para venda, como o originalíssimo recontar de Dom Casmurro, pela voz de Capitu;
  3. Oliveiros Litrento: esse é outro advogado-escritor. Alguém nos moldes do XIX, quando todos os escritores eram advogados. O que encontrei de suas obras dizem respeito a poesia e livros de direito.


allea jacta est.

Que vença o melhor entendedor de chá.


Driftwood - Travis

quarta-feira, março 22, 2006

Olá, Doutor, estou com uma inflamação esquisita...

- Olá, Doutor, estou com uma inflamação esquisita, logo aqui no 'lado'.

- Doutor, o senhor sabia que no Brasil existem 154 faculdades de medicina? Sabia que estamos na frente da China com 150, Estados Unidos 120 e Índia com 130?

- (...)
Sim, temos menos habitantes que todos esses países.Imagino que se o atendimento aqui já é... é...bem, do jeito que é, imagina lá, né?

- (..:)
- O senhor acha é? então qual é o problema?

- (!!!)
- Entendo... mas e o meu inchaço no saco?

- (.;.)
- Como assim cortar fora? Como saco vazio não pára de pé, daí não incha o saco?

- (.¨.)
- Se eu quiser operar pelo INANPS, tenho que esperar 4 meses? como eu vou aguentar ficar de saco cheio por tanto tempo?

- (<[]>)
- Aguentar por que sou brasileiro e não posso desistir nunca? AH! Não torra meu saco.

- (-.-)
- Sim, funcionou, sim. Estorriquou e ele ficou pequerrucho de novo. Obrigado, Doutor.

- (8o.)


Why does it hurts when I pee? - Frank Zappa

terça-feira, março 21, 2006

CLASSIFICADOS


  • Rapaz que precisa de atenção, 22 anos e empregado, troca suicídio por cafuné e suco de laranja sem açucar. Respostas para caixa 111.



  • Bebê de colo vende sorrisos e sono (para estudantes e classe artística 50% de acréscimo, basta apresentar carteirinha). Interessados tratar com___________ (ainda não foi batizado).



  • Moça linda de morrer espera pelo homem da sua vida. Se você gosta de mulheres lindas, compreensivas, que não falem palavrão (tá, só um e outro), usem tiara e forneçam carona, encontre Penélope as 21h. Basta pôr uma camiseta de listras azuis com crisálidas na lapela e descobrir o lugar do encontro.



  • Vendo perguntas para as mais diversas respostas. Acompanha enciclopédia Larousse. Preço de ocasião. Pedidos pela caixa 81264896149834689.



  • Troco guitarra velha, mofada e podre por uma que esteja nova, em perfeitas condições e preste. Prometo não tocar Gun's Roses. Caixa 3.



  • Compro revista Sandman (editora Globo ou Metal Pesado), números 4,5 e 6. Interessados mandar propostas para caixa de comentários.


E-pro - Beck

segunda-feira, março 20, 2006

Espere pelo DVD

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O trailler acima é de um filme que certamente não será distribuido nos cinemas por aqui.

É a singela história de uma pequenina cidade que resolve fazer um filme pornô. A CIDADE INTEIRA.

A pérola se chama The Moguls e é dos mesmos produtores de Amnésia, Quero Ser John Malkovich e Donnie Darko

Pra mim, no mínimo promissor.



Mamãe ama meu revólver - Pato Fu

sexta-feira, março 17, 2006

Bebei e dai de beber aos que tem sede...

"...quer dizer que não tem nad'aí pra beber?"

"- pois é, fiio. Graças a Deus, onti chegô qui um povaréu aí e bebeu tudo: cerveja, pinga, vódega, biter, refrigerente, gasosa, tudo."

"- a senhora vendeu bem, então?"

"- graças a Deus, fiio. Eles Beberam tud'aí, ficaro tudo bebido, mi pagaro no dinhero. Graças a Deus!"



The narrow way 1 - Pink Floyd

quinta-feira, março 16, 2006

Lista escolar

Pai, pra que serve a borracha?

Pra apagar...

Por que qu'eu vou querer apagar?

Porque você errou...

Como vou saber que eu errei?

Quando a tia falar que você tá errado

Pai, você não disse que não é pra eu acreditar em tudo que me falam?

É, eu falei. Mas na tia da escola, no pai e na mãe você deve acreditar...

Por quê?

Porque nós não vamos mentir pra você.

Pai, como posso ter certeza?

Porque nós te amamos e nunca faríamos isso com você. Você vai ter que confiar.

Pai, posso comprar uma borracha maior?

Essa aí, tá boa, filho. Pra quê você quer uma maior?

Porque eu posso apagar vocês errados e fazer certo de novo...



Miss you- Etta James

quarta-feira, março 15, 2006

Lição de casa

Leiam meu texto jacu no Tinidos:

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Eu sei que já sairam textos melhores, mas também posso sonhar em tomar chá e comer bolachas de polvilho com o Sarney.

O primeiro passo é não escrever bem e nunca publicar nada. Continuo fazendo os dois.



Jumping Jack Flash - Aretha Franklin

terça-feira, março 14, 2006

Subversão ou subserviência?

Flúor.
Um dos elementos vilanescos mais subvalorizados.

A adminstração de flúor, constante e direta, além de branquear os dentes, pode fazer com que você se torne mais complacente e menos reativo.

Por exemplo, os nazistas testaram em campos de concentração doses de flúor no abastecimento de água dos prisioneiros.

Por outro exemplo, Margareth Tatcher, primeira ministra e damo-de-ferra british, preocupada com os conflitos na Irlanda do Norte na década de 80, deu-lhes um suporte dentário, ao triplicar a taxa de flúor na água encanada dessa nação.

Já pensaram nisso?

Já pensaram nas conseqüências disso?

Eles podem estar fazendo isso com o catupiry!



Sulk - Radiohead

segunda-feira, março 13, 2006

Serviço de desmistificação pública

Você é do tipo que reclama que não tem tempo pra ler?
Você é do tipo que reclama que está o dia todo na frente do PC sem fazer nada?
Você é do tipo que estuda e reclama em ter que gastar dinheio com xerox de livros que não quer comprar?

Ia ser tão bom se existisse um sítio com obras em domínio público pra poder lê-las de modo gratuito.

Um sítio assim |>>>|



I of the morning - Smashing Pumpkins

sexta-feira, março 10, 2006

Coisa e (imor)tal

Sabe aqueles articulistas que pegam no pé de algo(uém)? Tipo o Mainardi com o PT, sabe como?

Bem, eu não sou exatamente um articulista, mas já tenho meus desafetos e encrencas com uma instituição. Se um dia chegar ser um articulista, não preciso me preocupar com a escolha do nêmesis pelo menos. Como já fiz isso antes, poderei somente articular.

(cá entre nós, o título de articulista é legal pra caraleo. Será que isso que vai na carteira de trabalho? No contrato de prestação de serviço? Dá pra se aposentar como articulista? Se me entrevistarem no Jornal Nacional - e eu for um articulista - pra saberem que eu acho do aumento da taxa de exportação de blógues, serei legendado como: Lielson Zeni - Articulista?)

Então meu desafeto, já tratado antes no bom e velho Círculo (não tem link aqui, pare), seria a ABL (Acadêmia Brasileira de Letras).

Meu critério é bastante simples: os melhores escritores não estão lá. O negócio até começou mais ou menos direito, sendo que na época a idéia não era tão ultrapassada assim.

Mas sabem quando a coisa desandou de vez?

Nem acho que tenha sido com o Paulo Coelho. Ele só é ruim, mas é escritor. E melhor que a Zélia Gatai.

Pra mim coisa descambou quando enfiaram o Getúlio Vargas lá. Do Pai dos pobres pra cá, juristas, médicos (Ivo Pitangui, por Deus!) e escritores pouco representativos.

Temos o caso Marco Maciel também...mas tá bom, né?
Qualquer coisa, visistem o sítio do refúgio ébano das letras naconais e verifiquem os nomes e sobretudo as obras das criaturas. |>>>|

Mas dessa vez, invés de continuar criticando e apontando falhas (o que muito me diverte) do chá dos velhinhos pedantes, apresento um momento de lucidez.

Obviamente, essa lucidez não condiz em nada com o padrão de atitudes engendrado pelos portadores dos fardões beliscados de chá e bolacha de polvilho.

Nelson Pereira dos Santos foi ABLizado. Pra quem não sabe, Nelson é um dos cineastas brasileiros mais importantes, sendo um dos precurssores do cinema novo. É claro, que a concorrência é meio demeritória.|>>>|

Enfim, nesse gesto a ABL reconhece a literatura no cinema, pela ABLização de Nelson Pereira dos Santos.

Se bem que eles reconheceram em livros médicos e jurídicos também.

Hmmmmmmm

Vou pensar mais um pouco sobre isso. Depois eu deixo nos comentários se realmente acho uma boa...


Blister in the sun - Violent Femmes

quinta-feira, março 09, 2006

Em uma repartição barata

Ontem, saí da reitoria e fui até a rua Castelo. Eu precisava do serviço de cartórios, resolver uma pendenga.

Nessa rua, após o Circo Permanente, à esquerda passando a Assembléia.

Nada mais óbvio: o nome do prédio no número 3103 da rua Castelo é Orson Weeles' Edifício.

Dentro, 6 elevadores privativos e um 'servetodos': décimo-oitavo, por favor.

A bailarina me olhou de um modo estranho e apertou o botão 15, mais o 2 e novamente 2. Fez uma cara incolor e apertou o botão -1.

Em poucos decibéis, chegamos.
Desço.

Ando até a placa [CARTÓRIO DE PENDENGAS]. Escolho a quarta porta e entro.

Peço a senha para o papagaio que a curupaco da caixinha.

As baratas-de-cartório levam meia hora inteira pra me atender.

Saco...



Mornington Crescent - Belle & Sebastian

quarta-feira, março 08, 2006

Protocolo 313080-19

A equipe Coke Babies, no nome de seu diretor José Nemo, agradece todas as cartas, e-1/2s, líquidos, fitas, CDs e vinis enviados para nossa redação In Limbo.

Acatamos também a sugestão de re-introduzir um sistema de comentários mais participativo e menos elitista no Lugar Certo.

Obrigado pela atenção.

fiat clamare



I love you madly - Cake

terça-feira, março 07, 2006

[Senhor Lielson]

Foi, pra minha surpresa, isso que encontrei quando acordei pela manhã na porta do meu quarto.

Uma figura assexuada (aparentemente) trajando cartola e nelson cavaquinho, com uma máscara de smile cobrindo todo seu rosto, segurava uma placa com meu nome.

Na porta do meu quarto, que abriu quando ouviu meu despertador.

Mantém-se imóvel enquanto levanto (vestido com uma velha bermuda e camiseta de banda aposentadas por tempo de serviço).

Quando me aproximo diz com um sotaque carregado por pequenos anões: Senhor Lielson?

Olho para ele e respondo que ele já vem.

Vou ao banheiro, me barbeio e na volta ele ainda está ali. Olha pra mim e refaz a pergunta:

Senhor Lielson?

Dessa vez, concordo com a cabeça. Ele me indica o caminho da sala com o braço.

Agradeço e antes que possa sentar no sofá, sou obrigado a parar, pasmo.

{continua...}


Lilly tiger - Luna

segunda-feira, março 06, 2006

Nada pra falar a ninguém

Tem pessoas que são simplesmente geniais.

Um monge satirista da Idade Média teve uma idéia bastante simples (por isso ele é um gênio simplesmente): ao ler sua Bíblia (em Latim), percebeu que existia um nome que era sempre citado: Nemo.

E que Nemo sempre era oposto a Deus: Nemo é capaz de vencer Deus; Nemo pode viver sem a misericórdia divina; Nemo é perfeito.

Então esse monge criou sátiras eclesiásticas com o herói Nemo e acab...

Eu falei que Nemo significa ninguém em latim?



Eleanor, put your boots on - Franz Ferdinand

sexta-feira, março 03, 2006

Fade fusion

"Isso é só uma fase de transição, não se preocupe."

Não são poucas as vezes que as pessoas sensatas e seguras de si (com unhas e dentes, bem agarradinhos na camisa 100% polyester) mandam essa.

Dedicadas a pessoas que estão meio perdidas, por estarem sua vida em suspensão (saca aquilo de não ter muita certeza sobre nada? E que os fatores estão encadeados em linha e você está um passo atrás do final da fila?).

O tom de quem fala isso é como quem diz a uma criança: "não se preocupe, um dia você vai curtir brócolis"; ou a um adolescente "Hoje você repudia e gospe no chão, mas amanhã, você vai se sentir obrigado a chamar os amigos pra tomar uma" (já falo de cerveja aqui, caso não tenha ficado claro) ou "Transição. Sossegue o facho."

Numa transição não temos que nos acalmar, nem sossegar facho nenhum. Nem o nosso. Afinal, os entupidos de tão cheios de si tem um ponto: vai passar.

Entendeu?

Assim, isso quer dizer que quando passar, você não estará mais em transição. Não poderá estar lá e aqui, estando alhures.

Essa é quase uma oportunidade única. Não. É mais: é uma oportunidade de dois pelo preço de um, de bing-bang, de amálgama, de jéquilraidismo.

Não desperdice a possibilidade de transitar ao máximo, pois você nunca saberá quando irá poder ser dois meios que um 1/2 que dois.

Sim, eu estou transicionando.



Iron man - Giant Sand

quinta-feira, março 02, 2006

Um pouco mais disso tudaí

Existe uma substância que hoje já é mais rara que o petróleo será daqui quarenta anos.

O grama do Tempo de Deleite do Lielson anda valendo muito mais que qualquer poetinha vagabundo de rua pode pagar. Tá tão caro, que é um investimento melhor que oxigênio.

Mas o problema não é dinheiro (nesse caso). É, sim, a inexistência de TDLs no mercado lielsonal. Tenho buscado novas formas de produzir minha própria semente e plantar um pezinho na minha janela, no lugar dos gerânios que nunca lá existiram.

Trazer a manhã mais pra perto e dar um esticada nela não adianta: é fazer do dia um cobertor curto pra você. O que sobrar pela manhã, faltará a noite.

Minha próxima tentativa foi aquecer meu tempo, pra ver se ele dilatava. Dilatou, mas além de encurtar de novo ao resfriar-se (acho que era gripe), ele afinava.

Hoje vou tentar enxarcá-lo com água vê se ele dá aquela inchadona. Vai que dá certo...



Razorblade - Strokes