terça-feira, maio 03, 2011

Luto para um amigo

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cercado pelo casamento real de um lado e pela morte (insira sua dúvida conspiratória favorita sobre isso aqui) de Osama Bin Laden, se centra o mais importante - na verdade, pior - acontecimento do final de semana: a morte do escritor e pintor argentino Ernesto Sábato.

não precisa se sentir estúpido ou, pior, fingir que conhece o mestre gringo. pouco falado no Brasil e obscurecido pelos magistrais Cortázar, Bioy Casares e Borges, Sábato chama pouca atenção no meio literário daqui.

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mas essa injusta atenção pequena, é em nada desprezível. a Compania das Letras tem tudo (ou quase) do hombre em sua linha editorial.

o sempre foda Zé Castello escreveu sobre ele. leia.

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eu fui amigo de Sábato.

não, nunca o encontrei, nunca apertei sua mão e passei pelos segundos sem saber o que falar pra um ser humanao que (a mim) é (ainda É) tão admirável. nunca escrevi cartas pra ele ou e-mails (que eu duvido que ele tivesse). mas ele me conhecia muito bem. e eu a ele.

fomos amigos, e nossas conversas, urdidas pelo Túnel, Sobre heróis e tumbas, Homens e engrenagens e tantas outras palabras, apesar de iguais, cometem novidade. sempre.

ele me falava sobre o cientificismo e do racionalismo dogmático, que segundo ele, são a pinoia desse pampa desumanizador.

quando o conheci, em meio de um capítulo de Homens e engrenagens, no primeiro ano de faculdade, eu entendi alguma coisa. até hoje, não estou bem certo o quê, mas entendi. nessa época, Sábato já tinha abandonado a ficção e praticamente parado de escrever. apenas pintava, em sua casa em um lugar chamado Santos Lugares.

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pintava, até que esses olhos, perenes apontadores pro mundo, cansaram. e, nas armadilhas do idioma, no sábado passado, Ernesto Sábato morreu.

eu já tinha sentido que perdia um tio distante quando José Saramago morreu (não se fica impune a ler tanto o escrito de alguém), mas com o Sábato quem se vai é um tio querido, que nunca vi e nem verei, mas que encontrei mais vezes do que a mim mesmo.

como ele mesmo me disse, quando explicava porque a humanidade não se arrebata por uma onda suicida quando compreende sua mortalidade e vacuidade do viver:

"Que valor existiria se trabalhássemos e vivêssemos entusiasmados se soubéssemos que nos espera a eternidade? O maravilhoso é que o façamos apesar de nossa razão nos desiludir permanentemente. Como é digno de maravilhamento que as sinfonias, os quadros, as teorias, não sejam feitos por homens perfeitos, mas por pobres de seres de carne e osso." (Homens e engrenagens, p. 129, Papirus, 1993)

vou continuar a conversar com Sábato. eu me vou um dia, e ele vai continuar a ser ouvido. quem sabe eu mesmo continue a ouvir...

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