liguei pro meu pai.
sempre conversamos sobre o futebol. eu, com a função de alimentá-lo de notícias do Corinthians, já que meu pai além de morar no interior, não manja (ou maneja) internet.
entre a possível saída de Felipe da meta alvinegra e a improvável reforço de atacantes ao elenco do Timão, falou:
- tu te lembra do Epídio? irmão do tio Carlos?
- lembro, tudi bem com ele?
- é... pode-se dizer que mais nada de mal vai acontecer: ele morreu.
- ih, caramba... e o tio, ficou abalado?
- sempre, né? sabe como ele é. infarte, tava ali em Ampére e morreu.
- do nada?
- é, mal súbito.
- triste...
- triste, né? Ele tinha a minha idade.
em seguida ele voltou ao protocolo. E o trabalho? E o clima? Mais alguma novidade do futebol? mas naquele pequeno instante, ele se mostrou inteiro: lembrou que as pessoas morrem.
óbvio, mas e nossa segurança pra viver. esquecer que a morte é um fio de cabelo, é um apendicite.
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liguei pro meu pai
- (...) mas então, tudo certo com os tios?
- tudo, tudo.. tudo bem... tu lembra do Rafael? Rafael Benneb.
- Rafael, Rafael... aquele que estudou comigo no pré?
- isso...
- ele não tava em uma clínica de reabilitação... drogas, né?
- tava, saiu e tava bem... até que começou a beber.
- muito?
- ele morreu de cirrose essa semana.
- ele fazia a niversário em março também, sabia....
protocolo. minha vez de pensar na vida em fios de cabelos enrolados.
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