eu me sinto obrigado a ver Tarantino no cinema.
obrigado por um piá de 15 anos. sorte do menino que não tenho nenhum problema em assistir os filmes do Tarantino. eu gosto muito, mas ele já deixou de ser meu cineasta favorito há algum tempo.
assisti a todos que pude no cinema, ou seja, de Kill Bill - Volume 1, pra cá.
mas minha principal satisfação de ver Django Livre no cinema tem menos a ver com a direção, os diálogos e a fotografia, do que já teve. tem mais a ver comigo e com o menino adolescente.
(que todo mundo deve ter sacado que sou eu mesmo, porque sou meio ruim de guardar segredos. é o Lielson de agora fazendo o que Lielson de Francisco Beltrão, sem cinema e sem vídeo-cassete não podia fazer)
em outra circunstância, seria só uma vingança besta contra o mundo, um grito desgraçado perdido numa escada abaixo. mas como é de mim que eu falo, é de um eu ligado a um outro-eu por uma espichada de tempo, é um prêmio dado a tempo (e fora do tempo): eu levo aquele adolescente a ver o seu cineasta favorito no cinema, a encarar em uma grande tela alguém que o influencia e o influenciará.
sem ter de torcer pra chegar na locadora de vídeo o VHS, e aí organizar uma noite de filmes e SuperNES com o amigo pra ver o filme, decorar diálogos, rever e comer pão com bife. é legal também, mas o que sobra dum lado, falta de outro.
cercado por desconhecidos, estou só no cinema. eu que sou dois (pelo menos dois), encarando as luzes de Tarantino. sorrio nervoso, meu estômago afunda em si mesmo e me sinto bem em ser essa audiência. obrigado, Taranta. bom filme pra todos nós.