sexta-feira, julho 09, 2004

Circulo Reloaded
mais um texto resgatado do Círculo pra vocês

“Mas é que
Se agora prá fazer sucesso
Pra vender disco de protesto
Todo mundo tem que reclamar
Eu vou tirar meu pé da estrada
E entrar também nessa jogada..”


Um dos maiores nomes do rock nacional, Raul Seixas dá o tom do começo desse texto. Raul inclusive é objeto da maior parte das reclamações por parte de quem tem uma banda. Sempre tem alguém reclamando para tocarem “Raulzito”.

“Não, porque você poderia ter feito um texto sobre outra coisa...” Pode ter gente pensando isso. Mas e daí? Em lugar de produzir um texto reclamando de algo – como já fiz muitas vezes – me proponho a fazer um texto em que elucido uma situação simples: reclamar é bom.

E muito bom.

Mas não falo dessas reclamações estilo Diogo Mainardi e Paulo Francis, em que o reclamante (ou reclamador? Não importa.) só busca a polêmica, não brada seus azares ou infortúnios de coração, de alma limpa.

Reclamar, embora a Organização Mundial de Saúde ainda não tenha se dado conta, faz bem. Ao se estressar e estafar com a situação indignante de que se está refém, evita-se um recalque e uma absorção de sentimentos ruins dentro de você.

Realmente acredita nisso?

Então, eu tenho muito mais a reclamar. “Mas não é esse o propósito...” vocês podem dizer. Podem até berrar e reclamar de que estou reclamando invés de provar que reclamar é bom. Mas pôr a atitude em prática me parece uma prova contundente do que digo.

Duvida?

É que nenhum de vocês pode ver o sorriso que mantenho enquanto digito esse texto. Mas vamos aos fatos:

Se muito antigamente um homídeo não tivesse resolvido reclamar de outro, e usado um osso de animal morto para isso, não teríamos o conceito de ferramenta e de instrumento.

Se os espartanos não reclamassem tanto dos atenienses serem “frescos”, e os atenienses dos espartanos serem “toscos”, nenhum dos dois povos teria evoluído tanto em suas características. O conhecimento de Atenas e a militarização de Esparta.

Se um não-proletário tivesse se calado no lugar de reclamar sobre as condições dos proletários, jamais teríamos os conceitos de dialética marxista, de motor da história pela luta de classes e tantas outras teorias superbacanas.

Se uns malucos não tivessem resolvido reclamar da sua condição de operário suburbano londrino, jamais teríamos conhecido o fenômeno punk, que marcou pela estética visual, pela música e sobretudo a atitude.

Se Stanley Kubrick não reclamasse tanto de seus atores e produtores, jamais teria produzido tantas obras primas do cinema.

Se o Chico (o Buarque) não tivesse que reclamar da ditadura jamais teria perdido a postura de alienado e nós não teríamos pérolas como Samba de Orly, Construção e Cálice.

Se Warren Ellis não estivesse com vontade de reclamar não teria criado Transmetropolitan, um dos melhores quadrinhos publicados irregularmente no Brasil hoje em dia.

Se Kafka tivesse se aquietado invés de reclamar do sistema burocrático e legal através de alegorias em suas obras, não teríamos um dos maiores do realismo fantástico.

Se o povo tivesse se acomodado em lugar de reclamar dos dirigentes, o Brasil teria permanecido colônia por mais de 300 anos...ops!

Se o nosso heróico povo não tivesse sido manipulado para reclamar, teríamos um governo Collor até 1994 e não poderíamos reclamar da volta do Fusca promovida por Itamar Franco.

Mas adverso a todos esses fatos – e contra fatos não há argumentos, todos bem sabem – reclame nos comentários aquele que nunca reclamou de um comercial na TV, de uma supervalorização de uma artista ou fato, de um computador com problemas operacionais, de um texto do circulo, etc.

Sobra os espaço dos comentários para você chiar e/ou reclamar. De preferência, sobre esse texto aqui. Afinal, meu ouvido não é penico, caramba!

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