sábado, junho 11, 2005

Um texto tosco para um final de semana pouco promissor

Jaime era bonzinho pra caraleo.

Foi que de tanto andar com um baralho no bolso da camisa, o naipe de ouros entranhou-se-lhe, o de copas desceu peito abaixo, o de paus um pouco mais e o de espadas cutucava sua bunda.

Ele era todo coração: e mais: um coração de ouro!

Ajudava escoteiros a atravessarem a rua, carregava velhinhas pesadas para as sacolas, dava frio pra quem tinha blusa, fome pra quem tinha comida, sempre dava seu velho no banco para um ônibus, jogava pombas no milho para as calçadas, clicheava os jargões nos lugares comuns.

Até que um dia foi assassinado por uma quadrilha de vendedores de órgãos. Como haviam perdido sua noite e não encontraram nem cravo, nem piano, buscaram os rins de Jaime.

Mas estavam ruins. Tentaram os intestinos. Mas estava uma merda. Tentaram os músculos. Mas estavam no osso.

Arrancam-lhe o coração: era dourado.

Petelecaram ele: oco.
Unharam ele: banhado a ouro.
Enfiaram uma das espadas-que-cutucavam-a-bunda-do-Jaime no atrio de lá e o abriram: sangue, nervo, grito e noz. Ouviram o grito: deixaram os nervos para um cabo de hiper-tensão: o sangue secaram na calçada: noz para o alto. Uma pra cada.


My iron lung - Radiohead

2 comentários:

Anônimo disse...

Li, leia o texto que tah no meu blog e diga se conhece 'o cara". Deposi que entrei no teatro fiquei pensando pq naum tinha te avisado... e, desculpa naum comentar o texto... sono! ah! naum encontrei o post milnea da katia! beijo!

Anônimo disse...

Nem é ruim. Só tem noz demais. Prefiro castanhas.

Abraços!

Tiago