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Vamos ao nosso sobranceiro e fornido guia da leitura do Ulysses. se tu chegou agora e quer entender o que está acontecendo, leia as postagens cronologicamente e tudo ficará bem, eu prometo.
este segundo capítulo é mais curto e de leitura muito mais rápida que o primeiro. o estilo catecismo (pessoal) é esse estilo cheio de perguntas e respostas do texto. ainda estamos na Telemaquia, ou seja, acompanhamos Stephen Dedalus.
e onde começa o capítulo? começa no meio da aula de história (que é a arte desse capítulo) que Stephen dá a seus alunos.
e os alunos gostam de Stephen? Olha, até gostam, mas ele não aquele professor transformador. mal bate o sinal saem a toda para jogar Hockey.
todos eles se vão? Não, um menino, Sargent, pede ajuda a Dedalus, que muito de má-vontade, atende ao piá.
mas porque má-vontade desse tipo? porque ele acaba por se reconhecer naquele menino frágil e odioso, que mesmo assim, é amado pela mãe.
isso quer dizer que retoma-se o espectro da mãe a assombrar o senhor Dedalus? sem dúvida retoma-se.
tá, mas e daí? daí o senhor Deasy chama Dedalus ao seu gabinete para lhe pagar o salário.
mas só isso? não, o senhor Deasy também pede para que Stephen leve uma carta que ele escreveu denunciando uma conspiração judaica-manchesteriana para acabar com a moral do gado irlandês, acusando-o de ter febre aftosa.
e o senhor Deasy deve ser levado a sério? não, ele é um preconceituoso, elitista, monarquista e antissemita. evite esse tipo de companhia.
e o Stephen joga a carta do nazista avant la guerre fora? não, ele a guarda no bolso e ainda tem de ouvir uma piadinha antissemita no fechar do capítulo.
mas cadê a história, que é a arte desse capítulo? infiltrada nos diálogos, principalmente história da Irlanda que dá as caras no papo de Deasy e Dedalus.
bacana! tem alguma citação bacanuda pra mostrar? sim, anotei algumas:
"O rosto de menino cegamente perguntava à janela cega.
Fabulado pelas filhas da memória. E no entanto foi de algum modo como se não como a memória fabulou. Uma frase, então, de impaciência, o baque das asas do excesso de Blake. Ouço a ruína de todo o espaço, vidro estilhaçado e alvenaria desmoronada, e o tempo uma lívida flama final. O que nos resta então?" (p. 124) - Stephen diante da indecisão de um aluno em responder-lhe.
"O píer de Kingstown, Stephen disse. Isso mesmo, uma ponte desiludida." (p. 125) - aula de Stephen
"Para eles também a história era uma estória como outra qualquer repisada demais na memória, sua terra, uma loja de penhores." (p. 125) - Stephen sobre seus alunos
"Tem de ser um então movimento, uma manifestação do possível como possível.[...] O pensamento é o pensamento do pensamento. Plácida luz. A alma é de certa forma tudo que existe: a alma é a forma das formas. Súbita, vasta, placidez incandescente: forma das formas." (p. 126)
"Ela não era mais: o trêmulo esqueleto de um graveto queimado no fogo, um odor de jacarandá e cinzas úmidas. Ela o salvara de ser pisoteado e havia ido, mal tendo sido." (p. 129) - Stephen, sobre a imagem da mãe morta.
"Pela página os símbolos mourejavam em dança grave. Graciosos na arlequinada de suas letras, usando gorros de quadrados e cubos. Deem-se as mãos, cruzem, saúdem o parceiro: assim: diabretes da imaginação dos mouros." (p. 129) - narração de Sargent fazendo a lição de matemática.
"Como ele era eu, esses ombros caídos, essa falta de graça. Minha infância se curva a meu lado. Longe demais por que possa pôr-lhe a mão uma vez ou levemente. A minha está distante e a dele secreta como nossos olhos. Segredos, sílices silentes, repousam nos palácios escuros de ambos nossos corações: segredos exaustos de sua tiranias: tiranos desejosos de se ver destronados." (p.129-130) - Stephen se reconhecendo no pequeno Sargent.
"– Eu tenho medo dessas palavras grandes, Stephen disse, que nos deixam tão infelizes." (p. 133) - Stephen em diálogo com Deasy.
"– A história, Stephen disse, é um pesadelo de que eu estou tentando acordar." (p. 137) - diálogo com Deasy.
pra mim, essas duas últimas frases são tatuáveis de tão boas.
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