quinta-feira, junho 29, 2006

Diálogos patônicos

"...se o mundo realmente só existe do modo que eu vejo, ou melhor do modo que eu sinto, e sobretudo, do modo como eu lembro, nada mais lícito que construir o meu próprio mundo com falsas memórias.

Sério, pensaí: você vive a cada instante, e só vive cada instante pra frente por que não sabe o que vem depois, mas sabe o que veio antes. Como não temos o controle de ver o futuro, nossa referência é sempre passado.

Se você não tiver esse passado, você é um ponto solto: sem memória e sem premonição. Louco, né?

Como nossa referência é o que veio antes, o que é bom na nossa vida foi experimentado. Podemos ter fé em conhecer mais coisas, mas todas elas serão construídas nos alicerces da memória.

Ou seja, não há nada de fraqueza em fazer com que suas memórias sejam as melhores coisas."

Feliz o rapaz encerrou, mastigando e cheirando a admiração por suas conclusões. Um outro falou:

"Certo. Mas como poderíamos escolher aquilo que nos satisfaz? Como poderíamos saber se tudo aquilo que queremos, ao ser obtido não mudaria nossos desejos? E ao ter o que hoje queremos no passado, mudaríamos. Não terá sido a necessidade, em parte, que nos trouxe até aqui? E com a satisfação dessa necessidade, não abocanharíamos novas? E não gostaríamos de ter em memória outras coisas? E nesse ciclo de criação e desejo, até que o mundo inteiro estivesse em nós, e daí o que faltaria?

Faltaria eu creio, a escolha e sobraria um desejo de querer algo que não se sabe mais o que é, mas que tem faltado..."


Tighten up - Yo La Tengo

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