quinta-feira, abril 27, 2006

Era uma vez

Celinha. Morava num pequeno apartamento afastada das pessas, mas próximas das multidões. Celinha era escritora.

Começou com um blogue meia-boca, que no boca a boca, virou mania e cartilha de conduta para adolescentes, que a consideravam uma boca e meia.

Celinha porém sabia qual parte de boca lhe cabia. Por isso, sempre assinou o blogue com um pseudônimo: Alice (Ce-li-a ---> A-li-ce). Não queria 'sujar' seu nome.

Cada vez mais, as histórias meia-boca entravam goela abaixo das pessoas. Celinha, como Alice lançava um livro a cada 2 meses. Celinha resolveu então, publicar uma literatura experimental e levada a sério. Escolheu o nome de Lecia.

Celinha se mordia, pois Lecia (que era a escritora que ela sempre quisera ser) não vendia nada, mas era beijada pela crítica; o oposto de Alice, que vendia muito, porém os analistas literários metiam a boca.

Celinha, então inventava mais uma personagem: Zélia, uma escritora de soft porn. Seu primeiro livro (Pipoca ou Pop Corn?) fez tanto sucesso entre os intelectuais e punheteiros, que virou filme.

Mas Celinha não engolia isso. Não era isso que pensara pra si.

Resolvera pôr a boca no mundo: lançaria um livro assinado, finalmente, por ela mesma, revelando toda a história da criação das outras 3 escritoras. Todos ficarão de boca aberta, pensou.

Quando Celinha começou a escrever, percebeu a história que ficaria muito grande e resolveu lançá-la aos poucos, em capítulos, formando uma decalogia. O(s) livro(s) foi(ram) um sucesso comercial.

Até que aconteceu: as outras editoras que publicavam os pseudônimos de Celinha, resolveram processá-la por uso indevido e mal-intencionado da imagem de suas escritoras. Corre à boca pequena que Celinha teria aberto um largo sorriso ao ouvir isso.

Quando Celinha, de boca aberta, viu Leicia na TV, num programa de entrevistas, não soube o que fazer. Comentava ela sobre Alice, a nova imortal da ABL e sobre sua polêmica aberta contra Zélia, que entrava em trégua até que abocanhassem o dinheiro do processo contra Celinha.

Celinha chegou a abrir a boca pra dizer impostoras, mas se conteve. Em choque sabia que aquelas eram ela, tinha certeza.

Então Celinha levantou da cadeira em frente ao computador pegou a Celinha atônita pela mão e a pôs sentada no sofá. Disse-lhe que tivesse calma, que tudo terminaria bem.

Celinha deixou Celinha no sofá e foi para janela, pensando em escrever uma história em que os pseudônimos de um escritor começassem a se confundir entre si. Achou muito banal. Resolveu começar uma telenovela.



Intimate secretary - The Racounters

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