segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Eu vi Biutiful (edição com extras)

eu não tenho como desconectar Alejandro González Iñárritu de Guillermo Arriaga. foi com eles juntos que conheci o seu cinema.

depois de um leve declive em seus filmes - do brilhante Amores perros ao bom Babel - os dois ficaram loucões e quebraram o pau.

fim da parceria.

Arriaga fez um filme que não vi e Iñárritu fez Biutiful.

na sinopse da programação de cinema a gente já vê que Iñárritu quer deixar Arriaga de lado: não são tramas convergentes, mas a trajetória de UM personagem principal em conflito.

esse conflito tem várias faces, mas é, basicamente, o mesmo com qualquer cara: o desmanche do mundo de um homem, encarnado por Javier Bardem, que atua, até onde entendo disso, soberbamente e é o ponto alto do filme.

o mundo mostrado por Iñárritu continua decadente, meio torto e hiperrealista.a diferença vai pra a estrutura da história.

eu vejo que há dois filmes pelo preço de um: um homem (Uxbal) com um mundo desabando, que precisa cuidar de sua família -  composta por duas crianças e uma ex-esposa tomada -; e um homem com seu mundo desabando que transita pela Barcelona dos imigrantes - africanos vendendo na rua material falsificado feito por orientais.

ah, soma-se a isso uma paranormalidade:Uxbal é capaz de ver e falar com mortos.

Iñárritu tenta dar uma dimensão menos heróica a Uxbal (afinal, explora imigrantes e pessoas que perderam parentes), mas ele é tão empenhado em fazer as coisas certas que não há como não sentir pena dele.

em nenhum momento suas falhas são tão destacadas quanto suas qualidades, dificultando uma postura mais esférica do personagem. é uma ética meio "ele é canalha, mas coitado, no lugar dele o que você faria?"

o conflito dele é tentar remontar um mundo que inevitavelmente vai continuar a ruir.

a falha se deve à falta de tesoura. muitas cenas podiam ser descartadas.

mais: acredito que Iñárritu deveria ter escolhido qual história daquelas duas quer contar. as duas somadas mataram a estrutura dramática de seu filme, que não deixa o espectador guardar o lenço.

é tanta cena emocional, que elas acabam se banalizando.

claro, o diretor é de primeiro time e há sim, várias passagens belíssimas. mas é pouco pra tanto filme.

assim como Uxbal, Iñárritu tenta e tenta de novo fazer o certo. mas no final, entre poucos acertos sobra pouco. parece que Arriaga fez falta.

pra outra opinião, leia o Escorel.

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EXTRAS


assisti sábado O diário de Anne Frank (versão de 1980). filme batido, de forte apelo emocional e massacradamente passado pelas escolas de Ensino Fundamental. No final, uma ceninha simplória, que é uma lição de cinema. atuação competente e elipse (veja ali em cima a partir duns 2:45, melomenos).

claro dava pra evitar a musiquinha jacu.

você não precisa ver os nazistas socando a bota nos judeus. basta o pavor das famílias e os olhos resignados de "acabou-se" enquanto ouvem gritos em alemão e marcha militar pra lá de uma porta (por enquanto) fechada.

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