às vezes, me estranho. nada daquilo de olhar no espelho e perceber que está velho e se estranhar.
não.
faço coisas que acho estranhas.
que não são assim ESTRANHAS, mas incomuns. trilha das obssesões.
sou um conjunto que recebe obsessões e reflete teimosia, embora eu preferia emoldurar em interesse e persistência.
meu mais recente interesse é começar a correr.
e minha persistência é tal que ontem fui a medicina esportiva antes de botar o pé na estrada em alta velocidade.
sério, eu me estranho disso. a medicina aposta em uma frieza e desumanização que me aborrece.
muito.
a diferença entre mim e o estoscópio é quem vai pra orelha e quem vai pro bolso. eu, me fui pra esteira.
a experiência de hamster devia ser partilhada por todos - principalmente pela enfermeira que depila seu peito e pelo médico que nem te olha na cara.
fios saem de pinos colados com fita adesiva no meu torso e o ar entra por uma máscara desconfortável de borracha mezzo fedorenta.
não fale, o doutor pede enquanto vê o iPhone, isso altera a medição da respiração.
ah, então é pra respirar? foto não rola, chefe?
a vida de hamster, realmente, é uma bela merda. além de acharem que você é um rato tucanado, a tal da esteira exige um equílibrio próprio e desconfortável. "você acha que sabe andar e correr? experimente agora, camarada."
mas, persistentemente, corri até doer minha lateral, ergui a mão e o médico parou de olhar os desenhos que meu coração fazia na tela e desligou a roda da vida.
(pelo que vi ontem, a arte não deve vir do coração não. total falta de criatividade do músculo ensanguentado.)
duas vezes por semana e, por que não, um dia do final de semana. essa é constatação depois de muita ciência médica.
nenhuma insuficiência cardio-respiratória, problemas de joelho ou tornozelo ou indisposição psicossomática. É isso: após meia década de baixa atividade física ainda estou dentro do normal. em um momento vate, me imaginei no pan-americano se tivesse treinado e me dedicado. agradeci aos céus e à terra nunca ter feito isso.
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