quarta-feira, janeiro 12, 2005

Les Larmes Du Garçon

Uma mulher me disse uma vez que nada é pior que homem chorando. Ela terminou comigo e me coibiu o ato dramático possível. Tudo bem, afinal não chovia. Seria despropositado mesmo.

Quando cursava o maternal, num dia chuvoso a monstra da professora me pôs num lugar abissalmente alto (1m40, aproximadamente) por eu chorar apavorado com os trovões. Eusse pequeno covarde tinha 3 anos.

Quando eu era uma pequena criança um tantote maior e cursava a pré-escola, fui cantar na frente da classe e me tornei motivo da chacota. Chorei enquanto corria pra carteira pra chorar.

Desse fato em diante, me tornei uma irritante criança chorona. Na segunda série chorava escondido atrás da porta no intervalo. Um gigante da terceira vinha me bater por puro prazer (dele).

Era um merda. Chorava em esportes que me dava mal. Chorava quando gritavam comigo. Chorava quando era abatido ao reagir agreções diversas. Até o advento da quinta série.

Por algum motivo que desconheço, as coisas mudaram. Em um momento precioso ao choro, preferi desafiar a autoridade instituida. O Repetente se virou pra mim. Fiz o mais belo dicurso que um intelectualóidezinho da(e) quinta poderia fazer. Quando seria fatalmente destruído pela superior compleição física do adversário, sou salvo pela passagem do inspetor, olhando feio.

Ainda pude mandar um: tu sabe que eu tô certo pro cara. O choro foi vencido pela estupidez de desafiar alguém maior e pela benção divina não ter virado pasta carne hematomada.

De lá pra cá, pessoas morreram, quebrei a cara, o cu, copos e me permeti poucas lágrimas. Uma única vez me entreguei ao choro forte nos braços dos pais. Voltava fracassado de Erechim - aquela história de eletricista pós-CEFET. Me sentia incapaz de qualquer coisa. Foi quando entrei na UFPR.

Poucas lágrimas tentaram nesse período. Poucas mais (que dá em menos) venceram. Até ontem.

Vendo na TV um filme que eu já conhecia. Me senti novamente impotente e desimportante. Não há nada que eu possa fazer pra satisfazer aquela situação. Exatamente como quando voltei do RS.

Sem enganos com paliativos-alivia-consciência. A certeza do nada. E chorei.

Não rios de lágrimas sofridas como nos poemas românticos, mas o suficiente pra ser inegável.

O filme era "Ilha das Flores".



Saliva - Mew

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