segunda-feira, maio 15, 2006

Texto velho, porém contextualizado

Escrevi esse texto em 2002, e na época pensava sobre situação política e artística, de maneira bem inocente, como podem perceber no texto. Mas estou, sem falsa modéstia, em desespero pelos eventos em São Paulo. Acho que, infelizmente, essa merda aí é só o começo:

Quem gosta de abismos
Que tenha asas

F.Nietzsche

O romance, o último gênero que surge é oriundo do século XIX. De lá para cá nada de novo surge nesse contexto. James Joyce, autor do maior romance do século XX – Ulisses, já apresenta algumas das principais característica do pós-modernismo: a releitura e a fragmentação. Ulisses conta um dia na vida Leopold Bloom. Existem comparações com a Odisséia de Homero e no transcorrer do livro Joyce se utiliza de vários gêneros textuais para compor o seu.

É aqui que o romance se apresenta como um híbrido. Abarca todos os gêneros ao mesmo tempo e a partir dele nada original foi criado.

A democracia participativa e o capitalismo estão como senhores da política e da economia desde da ascensão burguesa no século XVIII. Surgem termos como neo-liberalismo e afins, que nada são além de formas mantenedoras do regime capitalista.

A arte passou por vários momentos pós-romantismo, mas boa parte dos seus princípios e conceitos ainda vogam em nossos valores estéticos. Basta ouvir o setor que mais produz literariamente, a industria musical.

Nosso pensamento filosófico atual apresenta poucas considerações novas. Relemos apenas sem produzir algo mais. Um setor paralisado desde Nietzsche – que não chegou a pisar no século XX, pois morre em 1900 - um pouco cutucado por Sabato, Ortega y Gasset e a turminha mal-humorada de Frankfurt.

A ciência do nosso século XXI não trouxe os bacaníssimos carros voadores ou esteiras estilo Jetsons em lugares de calçadas. Nem ao menos andróides para fazer o trabalho pesada e gerar um pouquinho mais de desemprego. A ciência produz conhecimento nem sempre com valor para o ser humano.

Percebe-se uma inquietação na arte. Os artistas estagnados apenas reproduzindo segundo o padrão pós-moderno sente-se incomodados pela falta de um novo impulso.

Algo está para acontecer.

A ausência desse impulso talvez deva-se ao século XX. Se o século XIX “matou” Deus, o século XX matou as utopias.

O socialismo se provou uma farsa, as duas guerras mundiais e todas as intervenções autoritaristas localizadas pelo mundo põe no chão qualquer sonho de paz.

A esperança de igualdade se restringe a cada metro que a cidade cresce. A promessa de igualdade sussurrada pelo capitalismo não se cumprirá.

Algo está para acontecer.

A morte das utopias parece ter estagnado toda a inovação tanto nas artes quanto no pensamento social-filosófico. Nossos produções de pensamento dificilmente se livram de Descartes, Marx e/ou Darwin.

Acho que estamos em uma época limite. Algo está para acontecer. Estamos na linha limítrofe da mudança.

Enquanto estamos parados o chão sob nossos pés vai desaparecendo. A fé perde o valor, as utopias não são capaz de substituí-las, a arte se desmotiva e apenas recicla.

O que o século XXI matará? Algo está para acontecer.



Sleep now in the fire - The Rage Against the Machine

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