sexta-feira, maio 05, 2006

Um conto de Ruben

Tenho feito de minha vida uma privada (lembro do PRAVDA soviético). Até acordo ao lado dela.

Afinal, é natural que acorde ao lado do que durmo (se bem que ele sempre vai embora).

Tenho bebido tanto, que nem lembro de beber. As deduções partem do mau cheiro e das poças a minha volta. E da privada em meus braços.

Ele bebe muito (chamo ele de Russo). Bebe mais que eu. Nunca vi ele desabar.

Eu sempre termino no sofá, imagem simples da derrota.

O outro dia me convence que bebi demais: a privada suja a minha frente, o gosto azedo em minha boca, a cabeça latejando, os olhos apertados.

Olho o quanto que deixei de mim na privada. Sorrio e aceno para o que está no vaso.

Dei àquela parte de mim a chance que sempre precisei, e nunca ganhei: desaparecer.

Dou o último adeus, sinto a cabeça doer e puxo a descarga.


Love will tears us apart - Nouvelle Vague

Nenhum comentário: