quarta-feira, maio 31, 2006

As diversas quedas

Você ainda lembra da sua infância?

Não estou pensando em primeiros amores ou brincadeiras marcantes. Falo daquela idade em que se é um bebê e não se é capaz sequer de falar.

Tenho um amigo que lembra de, sentado no sofá de sua casa, jogar um objeto amarelado longe. Era a carteira de cigarro de seu pai, que viu naquilo um sinal para que parasse de fumar.

Conseguiu até o dia da separação, quando aceitou um cigarro desse meu amigo que anos antes, em formato bebê, jogara pela janela uma carteira de Camel. Ele fuma Carlton.

Outro amigo meu lembra de estar sentado num tapete sobre o teto de um fusca verde. E de que o sol beliscava sua face e o tornava amarelo.

Esse não fuma, nem assistiu separação dos pais, embora queira projetar um computador que funcione por luz.

Eu me lembro de meu pai com os braços abertos e sorrindo, enquanto eu dava um passo frágil e caía. Levantava, re-equiibrava e caía.

Meu pai sorria (não ria), por isso me dava confiança e a oportunidade de seguir.

Nos braços dele. A memória dá um salto e perco toda minha via vitoriosa, com sabe-se lá quantos passos.

Aqui, andando pela calçada, vejo meu pai de braços abertos na esquina. Caminho trôpego até ele.

O vinho me empurra para um lado, eu me seguro na lixeira.
A vodca me amarra os fios invisíveis do pé, eu me asseguro num muro semi destruído.
O bilhete dela no bolso da calça empurra pra fora parte do vinho, da vodca, dos sanduíches, de mim e de meu amor próprio.

Limpo o rancor azedo no canto da boca e olho pro meu pai sorrindo. Sem represálias. Sorrindo.

Ando até ele e o desespero me empurra para seus braços.

Caído na calçado, procuro meu pai. Ele se foi e não voltou. Ele nunca esteve aqui.

Pai, ó pai: por que me abandonaste?



Carta - Toranja

segunda-feira, maio 29, 2006

As diversas quedas

O prazer da dor da queda, o aprendizado e esquecimento, acontece nas pequenas e grandes alturas.

Com homens e colheres, mulheres e objetos.




Live forever - Oasis

sexta-feira, maio 26, 2006

As diversas quedas

Algumas vezes, não precisa cair.
O chão (num golpe de marketing, uma espécie de queda delivery) vem até você.




Dura na queda - Chico Buarque

quinta-feira, maio 25, 2006

As diversas quedas

Dario, caido no chão. Ao seu lado uma vela em constante batalha com o vento. A roda de Samba da morte já veio, ali em torno de Dario.

Contorno de si mesmo, Dario fluia para fora de si.

Já vão 2 horas da queda. E Dario, continua, deitadinho pequeno, esperando. A multidão, incomodada com o final do espetáculo que não chega nunca, começa a vaiar Dario.

Afinal, o carro branco, que pára atrás de Dario. O rapaz sardento, assustado diz o prólogo, na frente do palco improvisado:

- Ele caiu faz tempo. Acho que morreu antes do final da queda.

(Sem dúvida, essa queda começara muito antes)

Os brancos 2, 3, 4 e o rapaz sardento jogam dario numa maca e o levam para as coxias.
As cortinas (logo após as portas) fecham.

Aplausos (ainda) em pé.

A sirene faz os agradecimentos.



Just - Radiohead

quarta-feira, maio 24, 2006

As diversas quedas

O moço, tão leve, tom simples, andava pelos campos de soja de Campos Sales.

Caminhava lento, atento aos ramos que dançavam ao sabor do vento.

Passeava a mão, sentia os dedos tocarem cada grão. A densidade, a pureza, a cor de cada planta, nele, e a sutileza.

Os pés tropeçavam no invisível, batiam forte contra si mesmos, conversavam o indizível. O chão quente, como que chamando cada elemento pra si, como alimento, como aumento de si.

Continuou o moço, reto, até que encontrou o poço, mal coberto. Caiu inteiro e desperto. No deserto de viver, sumiu da memória. Sem personagem pra escrever, desaparece da história.

Foi toda sua, inglória, queda.



In time - Cosmic Rough Riders

terça-feira, maio 23, 2006

Mil noites sem fio

Estava no ponto de ônibus. As mulheres atrás de mim conversavam. Falavam sobre um moço que casaria:

- Ele estava em sua casa, uma hora antes do casamento, dedicando todo seu tempo a ficar nervoso e apreensivo e comer salaminho, quando atendeu o telefone. Era o Tadeu, seu amigo falastrão. Começou a lhe contar uma história:

"Um homem entrou numa casa abandonada e resolveu morar ali. Mas percebeu, enquanto arrumava as tranqueira e abandonadices a seu gosto, que tinha uma frase na parede da casa. Era uma espécie de carta:

'Meu nome é Cairo, 35 anos. Vou dizer a você (seja quem for que irá me ler) uma profecia, contarei como será minha morte. Essa tinta não sairá da parede, nem minhas palavras de sua mente. Serei morto por um homem de bigode com um castiçal na sala de leitura. Esse homem fará isso por causa de um livro. Estará escrito nesse livro:

Não há sanidade entre um ponto e outro do homem. Isso faz com que as coisas terminem como comecem, pois não podem ir até o outro lado. Eu lhes contarei uma história que vi quando guri, sobre um rapaz. Esse rapaz tinha um diário, e certo dia, escreveu o seguinte:

Estava no ponto de ônibus. As mulheres atrás de mim conversavam. Falavam sobre um moço que casaria...



Ouvi contar - Sá, Rodrix e Guarabyra

segunda-feira, maio 22, 2006

Batendo o cartão

Terminei meus fazeres de cunho profissional. Também dei cabo da proposta intitulada de Maratona Blogue. Também parei de frescura pra falar. Ou melhor, escrever.

Eis que a chuva me concede uma trégua na hora de ir embora.

Espero que não seja uma armadilha vil de Xu-Wah, o vingativo senhor das águas-que-de-cima-vêm, por não ter eu lhe pago o tributo a que sou obrigado: portar o guarda-chuva.

Agora, daqui pra aula de Brasileira III, uma sopinha do RU e um café da cantina. Entre eu e meus simples desenhos, Xu-Wah e sua vingança impiedosa e fluida.

Para amanhã, as mesmas bobagens de sempre, uma única vez por dia.



Cheated hearts - Yeah Yeah Yeahs
No meio do turno da tarde

Então, penúltimo passo da Maratona Blogue'. Se você não percebeu, rolou um post a cada hora (mais ou menos) que estive aqui.

Explico aqui pra poder fazer um texto que não meta-texto no último post do dia.

Na última hora fiz textos de até 233 caracteres, encontrei um disco do Morphine e pensei sobre o que escrever aqui.

Não descobri.


Yes - Morphine
No meio do turno da tarde

Ontem assisti a um documentário sobre o Integralismo. Duas coisas:

a) é certo renegar a obra literária de Plínio Salgado, do modo tão velado que é feito? Ainda não li (nem sofri incentivo) mas tem uns caras bem medíocres nas leituras obrigatórias. Trarei novodades em breve sobre os textos ficcionais de Salgado. Aguardem mais informações por aqui.

b) A princípio, os integralistas deveriam lutar contra os fascitas (e demais regimes nacional-socialistas). Mas eles partiam do mesmo princípio e, por caminhos, diferentes chegavam à mesma conclusão:

Elites capacitadas governando e educando os demais pela honra e pela moral (deles), com a graça de Deus.

Deus me livre!



Next exit - Interpol
Voltando...

Entre 1 hora no banco, translados e internet lenta, volto ao texto.

No caminho de volta pra cá, pensava: não é só questão de opção os textos serem tão pessoais.

Numa produção de 1 por hora, não tenho tempo de ficcionalizar decentemente. Poderia fazer história do que acontece comigo, usando símiles ou aumentando.

Mas acho que a idéia é algo meio American Splendor, bem honesto e verdadeiro.

Se bem que sempre que eu conto uma história, é só uma visão dela. E desta visão não podemos garantir exatidão, ainda mais por se tratar de uma história acontecida comigo. Ou seja, o autor que cria o narrador está completamente envolvido e, portanto, não é nada isento.

Toda essa verdade daqui é apenas uma ficção de mim. Talvez meu personagem mais próximo de mim. Tão próximo que já não se reconhece Lielson suficiente nele...


I just can't get it enough - Nouvelle Vague
Saindo do trabalho e já voltando

Num dia chuvoso e atarefado como hoje, tenho que ir até um banco dar muito dinheiro a eles.

Isso poderia marcar um momento contrafeito, mas estou tranquilo. Números e letras pra eles, menos números e problemas pra mim. Sossego custa caro hoje em dia...

Sim, isso quer dizer que ficarei mais de uma hora sem atualizar a bagaça aqui


I gonna sit right down and wright myself a letter - Madeleine Peyroux
No fim de semana

No bom e velho sábado, descansamos e o guardamos na memória como manda o bom Deus.

A cena final desse ato de dia ficou a serviço de um espetáculo de bonecos de um argentino, o Titereteiro de Banfield. Teatro de bonecos para adultos.

Adulto aqui não quer dizer putaria nem a ultra violência, mas temas conhecidos até das crianças (solidão, partida, amizade, etc) encarados de forma madura.

As intervenções de metateatro são absolutamente fantásticas. Bonecos que percebem serem bonecos, magoados por se lembrarem de que são manipulados, salpicado com humor e ironia de alta qualidade.

Espetáculo pra lembrar e sorrir andando.

Túlio, fique ligado nesse cara. Se puder ir, vá!


I fall in love too easily - Chet Baker
No trabalho

Entre textos e textos, me vem uma idéia: vocês sabem dos 5 S organizacionais? E dos 4 P do marketing? E dos 4 C, do marketing e das organizações?

Se você não sabe, são idéias idiotas pra tornar mecânico um trabalho que é humano. Se você tiver seres humanos, os mecanize num regime taylorista-fordiano e exija estatísticas e produtividade para relações humanas.

Me deparei agora com um 4 R, dedicado ao meio ambiente: Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar.

Pra esses caras de empresonas ou corporaçõesonas, é tudo um número + letra. Por isso é tudo tão gráficos, tão econômico, tão desumano. Por isso é tão fácil demitir alguém: são letras (nome) + números (salário).


Secret meeting - The National
Para chegar no trabalho

Eu e a Van até tentamos acordar cedo.

Tentamos.

Mas sempre é difícil sair da cama com esse frio que malumora Curitiba. Perde-se ônibus e vamos pegar aquele lá longe. O dela, maior e mais lotado; o meu menor e gratuito, porém tão lotado quanto.

Só consigo embarcar no terceiro ônibus, incomodado.

Incomodado por ter ouvido motores de ônibus da minha casa até entrar no meu trabalho. São tantos ônibus, tão barulhentos, e não são suficientes.

Mais barulho, mais fumaça, menos descanso igual problemas no horizonte, elevado a cada vez mais próximo.


Rita lee - Mutantes

sexta-feira, maio 19, 2006

O encontro do palhaço calçudo com o comedor de fogo infeliz

O pão até pode torrar, mas o circo precisa pegar fogo.



Polar bear - Ride

quinta-feira, maio 18, 2006

cart1

Copiado da página http://www.irancartoon.com/Knokke/




Ask me how I am - Snow Patrol

quarta-feira, maio 17, 2006

O Teatro Epifânico apresenta: Do amor como prova substancial do amor - pedaça em 1 ato.

dramatis personae:
- Ela;
- Ele;
- Eles.

Cenário:
Banco de praça movimentada OU sofá na sala OU cama em um quarto.

ELA (em pé) - me diga então, senhor Ele. Como pode me provar tudo que disse?
ELE (sentado)- provar?
ELA - não me venha com o papinho que não se prova se sente.
ELE - sentir?
ELA - vamos! adiante!
ELE - só sei que te amo loucamente, Ela.
ELA - quer dizer que...
ELE (interrompendo)- e também que te amo racionalmente.
ELA - o que quer...
ELE (em pé) - te amo loucamente e racionalmente. E te amo paradoxalmente.
(Eles entram em cena e cobrem Ele e Ela com toalhas verdes. Elae, abraçados, saem de cena. Eles fecham as cortinas e aplaudem)
ELES - Ela sorriu e disse pra Ele bobo. Ele sorriu e não respondeu nada. Nós entramos, sorrimos e apresentamos ele.(apontam para as cortinas. O Fim, inteiro de branco, entra e segura um grande lençol nas mãos.
FIM - bem, acho que agora é comigo. (joga o lençol e cobre todos os expectadores, personagens e narradores)



The end - The Doors

terça-feira, maio 16, 2006

Coisa pouca

Quando seu filho nasceu, Pierre recém havia se convertido. Empolgado por uma passagem bíblica de sua preferência no livro dos Tessalanisenses, não teve dúvidas: registrou o bacuri de Tessalonisêncio Pedrosa II.

Tessalonisêncio era um rapaz alto, BEM alto. Grandão mesmo.

Aos 14 anos tinha 2, 47 de altura. Ser tão alto mexia com a cabeça de Tessalonisêncio, assim como os batentes das portas por onde passava. Ele queria ser menor.

Um dia, andando pela rua com uma lupa, foi mordido por um morcego radiotivo enquanto tomava um raio. Quando deu por si, Tessalonisêncio percebia o mundo MAIOR.

MAS NÃO ERA O MUNDO QUE ESTAVA MAIOR E SIM ELe que havia encolhido. Feliz, faceiro e saltitante, Tessalonisêncio corre pra casa, com seus inteiros 1,34 m de altura.

No caminho para casa, Tessaloni percebe uma coisa: continuava a encolher!

Mais e mais, ou melhor, menos e menos. Tessa já estava com 33 cm, do tamanho de uma régua, para baixo e avante.

Tê estava do tamanho de uma formiga com os centímetros e milímetros se esvaindo cada vez mais (menos, né?).

T. continuava a minorar e diminuir até que...

Onde ele foi parar? Não estou mais vendo... acho que tá ali, achei!

Então t...

Cadê?
(roubando uma idéia da Van)


A time to be small - Interpol

segunda-feira, maio 15, 2006

Texto velho, porém contextualizado

Escrevi esse texto em 2002, e na época pensava sobre situação política e artística, de maneira bem inocente, como podem perceber no texto. Mas estou, sem falsa modéstia, em desespero pelos eventos em São Paulo. Acho que, infelizmente, essa merda aí é só o começo:

Quem gosta de abismos
Que tenha asas

F.Nietzsche

O romance, o último gênero que surge é oriundo do século XIX. De lá para cá nada de novo surge nesse contexto. James Joyce, autor do maior romance do século XX – Ulisses, já apresenta algumas das principais característica do pós-modernismo: a releitura e a fragmentação. Ulisses conta um dia na vida Leopold Bloom. Existem comparações com a Odisséia de Homero e no transcorrer do livro Joyce se utiliza de vários gêneros textuais para compor o seu.

É aqui que o romance se apresenta como um híbrido. Abarca todos os gêneros ao mesmo tempo e a partir dele nada original foi criado.

A democracia participativa e o capitalismo estão como senhores da política e da economia desde da ascensão burguesa no século XVIII. Surgem termos como neo-liberalismo e afins, que nada são além de formas mantenedoras do regime capitalista.

A arte passou por vários momentos pós-romantismo, mas boa parte dos seus princípios e conceitos ainda vogam em nossos valores estéticos. Basta ouvir o setor que mais produz literariamente, a industria musical.

Nosso pensamento filosófico atual apresenta poucas considerações novas. Relemos apenas sem produzir algo mais. Um setor paralisado desde Nietzsche – que não chegou a pisar no século XX, pois morre em 1900 - um pouco cutucado por Sabato, Ortega y Gasset e a turminha mal-humorada de Frankfurt.

A ciência do nosso século XXI não trouxe os bacaníssimos carros voadores ou esteiras estilo Jetsons em lugares de calçadas. Nem ao menos andróides para fazer o trabalho pesada e gerar um pouquinho mais de desemprego. A ciência produz conhecimento nem sempre com valor para o ser humano.

Percebe-se uma inquietação na arte. Os artistas estagnados apenas reproduzindo segundo o padrão pós-moderno sente-se incomodados pela falta de um novo impulso.

Algo está para acontecer.

A ausência desse impulso talvez deva-se ao século XX. Se o século XIX “matou” Deus, o século XX matou as utopias.

O socialismo se provou uma farsa, as duas guerras mundiais e todas as intervenções autoritaristas localizadas pelo mundo põe no chão qualquer sonho de paz.

A esperança de igualdade se restringe a cada metro que a cidade cresce. A promessa de igualdade sussurrada pelo capitalismo não se cumprirá.

Algo está para acontecer.

A morte das utopias parece ter estagnado toda a inovação tanto nas artes quanto no pensamento social-filosófico. Nossos produções de pensamento dificilmente se livram de Descartes, Marx e/ou Darwin.

Acho que estamos em uma época limite. Algo está para acontecer. Estamos na linha limítrofe da mudança.

Enquanto estamos parados o chão sob nossos pés vai desaparecendo. A fé perde o valor, as utopias não são capaz de substituí-las, a arte se desmotiva e apenas recicla.

O que o século XXI matará? Algo está para acontecer.



Sleep now in the fire - The Rage Against the Machine

sexta-feira, maio 12, 2006

Minha vida não faz mais sentido

Sebastião teve um choque quando descobriu que sua blusa, dita por ele preta, era na verdade de um azul marinho exemplar.

Martinha se permitiu um choroso desespero ao verificar a não-correspondência do amor de Mauri por si.

Édipo descobre ter matado seu pai e trepado com sua mãe, e tido filhos e/ou irmãos com ela. Arrancou os próprios olhos e foi dar problemas pra Electra na terceira parte da trilogia tebana.

Sean passou 184 meses escrevendo o livro, que sem falsa modéstia, chamou de romance mais importante do mundo. Um mês antes de lançar descobriu a existência do Finegans Wake e Ulisses, respectivamente o que seriam os capítulos 8 e 5 de seu livro. E uns tais de Grande Sertão: Veredas, Montanha Mágica, O Processo e a Ilíada (capítulos 2, 3, 18 e prólogo, acho que nessa ordem). Seu pés foram soterrados ao chão com o peso do céu desabado às suas costas.

Rhalj, 39 anos de vida afastado de hábitos alimentares que envolviam carnes ou derivados de animais, até viajar para o maldito ocidente e descobrir que as delicosas salsichas não davam em árvores podres ao chão. Seu mundo caiu e tudo em que ele acreditava e pelo que lutava, desabou aos seus pés, esmagando quatro dedos do pé esquerdo, pé esse que ele nunca usara para levantar.

Lielson, descobre abismado que a palavra normatizada e dicionarizada é dúplex, com acento e pronúncia de gringo, não aquela que usara e ouvira toda a vida, Duplex. Ficou inconsolável e flutuando sobre ruínas daquilo que ele conhecia como certezas.


Dom Quixote - Mutantes

quarta-feira, maio 10, 2006

A mentepsicose

lars acordou em sua Casa, num Distrito da Lapônia. olhou para O Relógio nA Parede e percebeu serem HORAS de levantar da Cama.

lars, 42 anos, louro, olhos azuis, 16 CM era um laponês honesto, solteiro e trabalhador. trabalhava na MESMA Empresa de Adubagem em Terrenos dificeis. pois justamente no DIA 10 de Maio de 2006, lars foi demitido. seu CHEFE disse ser efeito da GLOBALIZAÇÃO.

contraram compantaneses para fazer o MESMO Trabalho que lars fazia, mas longe dali, não-sindicalizado e por 1/4 do custos salário-empregatícios do laponês.

Dinheiro não era problema para lars, pois economizou seu Salário durante ANOS. poderia viver por mais um bom TEMPO sem nenhum Emprego.

o GRANDE PROBLEMA é que lars não poderia viver muito TEMPO sem um Emprego. Ahn? lars sabia que não poderia conduzir sua vida desapegado de uma Rotina e de um Trabalho Fixo.

mas preferiu não entrar em Desespero ainda. quis ver se as Coisas aconteciam por Si Mesmas. enquanto aguardava pelas Coisas, organizou sua Rotina:

...Jardim, limpeza da Casa, manutenção dos Móveis, As Folhas dO Quintal, A Calçada de Casa, A Rua...

depois de 2 MESES, lars não tinha mais Serviços a fazer. sua Casa estava perfeita, assim como Qualquer Coisa, Troço, Treco, Objeto, Bugiganga, Posse, Pratarias, Louça, O Caralho a 4.

a cada novo DIA desocupado, lars se preocupava. em Uma Proporção direta, quanto mais fazia, menos tinha por fazer e portanto mais a se incomodar.

não havia mais Jeito: sua Rotina tinha ido pras Cucuias laponesas. a cada DIA ia mais, e parecia ainda mais longe de voltar.

todo DIA lars dormia sem descansar, preocupado.

Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietos, Lars viu-se transformado num pequenino inseto: uma formiga. E novamente pode ser feliz.



Half a person - The Smiths

terça-feira, maio 09, 2006

É coisa de criança...

Antes de sermos dominados pelas letras, usamos o desenho como expresão simbólica e de representação. Isso serve de corroboração àqueles que dizem que quadrinhos é coisa de criança.

É até um pouco mais. É como a fascinação pelo fogo, algo ancestral. Muitas vezes, só queremos o mais simples. Como ter uma janela ao seu lado.




Moonshot - Galaxie 500

segunda-feira, maio 08, 2006

horror vacuum

Era esse o nome que os historiadores davam ao sentimento dos egipcíos em relação as bordas em branco ao redor de seus painéis hieroglificos.

Medo do vazio. Zemti era o nome de um escriba responsável por cobrir e ornamentar tais cantos. Tudo era informação e adorno. Zemti acrescentava idéias suas às paredes, que não eram extaamente as mesmas do Faraó. Foi condenado a decapitação.

Na idade média, o monge copista Zicarius produzia o dia todo aqueles lindos trabalhos ao redor do texto de cada página ou na primeira letra de cada capítulo, arabescos e iluminuras. Não se poderia desperdiçar aquele espaço sem propor uma beleza ao mundo. E Zicarius ousou embelezar um texto e acrescentou frases suas a vários autores gregos e latinos. Foi laureado com a fogueira.

Zelioux, costumava anotar nos livros da biblioteca de Luis XXX, criando notas explicativas e oferecendo desfechos alternativos nas páginas em branco ao final dos livros que lia. Seu talento literário foi reconhecido com a guilhotina.

Zenolo gostava de acrescentar partes de letra nos silêncios vocais das músicas que ouvia. Algumas décadas antes do surgimento da música pop, Zenolo criara o backing vocal. Foi presenteado com tomates e pontapés por público e músicos. Aos empurrões, caiu num daqueles rios fedorentos de Veneza e morreu afogado.

Zylde era um poeta de banheiros. Sempre prencheia os batentes, portas e patentes com versos e trovas, embelezando o ambiente tanto quanto podia. Pego com a boca na tampa da caneta e calças arriadas foi expulso do colégio, não tirou mais boas notas, não conseguiu entrar no mestrado e morreu de fome como um dos péssimos poetas errantes de Nova Iorque.

Zico (não aquele) escrevia textinhos difamatórios na parede da cela, nos guardanapos do refeitório e nas bordas do jornal. Começou a escrever um livro no papel higiênico. Apadrinhado por um ator que tinha contatos numa grande editora (Letras Ltda), publica seu papel higiênico, num misto de fato, relato, depoimento, memória e ficção. Encabeça a lista dos mais vendidos por semanas. É tornado um imortal da ABL.


Free love - Morphine

sexta-feira, maio 05, 2006

Um conto de Ruben

Tenho feito de minha vida uma privada (lembro do PRAVDA soviético). Até acordo ao lado dela.

Afinal, é natural que acorde ao lado do que durmo (se bem que ele sempre vai embora).

Tenho bebido tanto, que nem lembro de beber. As deduções partem do mau cheiro e das poças a minha volta. E da privada em meus braços.

Ele bebe muito (chamo ele de Russo). Bebe mais que eu. Nunca vi ele desabar.

Eu sempre termino no sofá, imagem simples da derrota.

O outro dia me convence que bebi demais: a privada suja a minha frente, o gosto azedo em minha boca, a cabeça latejando, os olhos apertados.

Olho o quanto que deixei de mim na privada. Sorrio e aceno para o que está no vaso.

Dei àquela parte de mim a chance que sempre precisei, e nunca ganhei: desaparecer.

Dou o último adeus, sinto a cabeça doer e puxo a descarga.


Love will tears us apart - Nouvelle Vague

quinta-feira, maio 04, 2006

JUSTIFICATIVA

Esse blogue, fiel a seus sentimentos, encerra hoje o êxtase de 3(três) dias úteis, ocasionado pelo show do Echo & The Bunnymen.

Amanhã, reassumimos nossa programação habitual.

PS - O que foi aquilo?


Never stop - Echo & The Bunnymen